Esses japoneses não só chegaram à Amazônia como criaram um sistema de plantio que recupera solos esgotados e, ao mesmo tempo, gera alimentos o ano todo com uma técnica capaz de transformar grandes áreas desmatadas em exuberantes agroflorestas, e que fez de Tomé-Açu, no Pará, um exemplo para quem busca alternativas à destruição da Amazônia. Na década de 1920, quando as famílias japonesas começaram a chegar ali, a ideia era que elas ficassem alguns anos, juntassem algum dinheiro e depois retornassem ao Japão, mas isso não aconteceu para uma boa parte dessas pessoas. Esta é a história de uma comunidade que se enraizou nesta parte da Amazônia. |
- "O Japão é um país pequeno comparado ao Brasil. Não tínhamos perspectiva de adquirir nada no futuro", disse Hajime Yamada, 96 anos, a última pessoa viva a fazer parte da primeira leva de japoneses que chegaram a Tomé-Açu, em 1929. - "Meus pais decidiram vir para o Brasil porque tinha muita terra."
A chegada dos japoneses não foi isenta de desafios. Vivendo em condições precárias, eles enfrentaram não apenas as dificuldades naturais da região, como a malária, mas também as consequências da Segunda Guerra Mundial. Durante esse período, eles foram considerados inimigos do Estado brasileiro, enfrentando restrições e vigilância.
O fim da guerra trouxe um alívio misturado à dor da destruição de Hiroshima, cidade natal de Hajime.
- "Eu sou de Hiroshima. Bomba atômica deixou muita gente doida", disse ele. - "Quebrou tudo. Quando a bomba explodiu, queimava a pele das pessoas. Acho que se eu tivesse ficado lá, eu também teria morrido. Aí eu agradeci a Deus por ter vindo para o Brasil."
Após a Segunda Guerra Mundial, a comunidade japonesa de Tomé-Açu prosperou, construindo prédios e impulsionando o desenvolvimento local. No entanto, a década de 70 trouxe a fusariose, uma praga que dizimou as plantações de pimenta-do-reino, encerrando um ciclo de prosperidade.
O budismo, central na cultura japonesa, também perdeu força, levando muitos nisseis e sanseis a migrarem para o Japão. A busca por alternativas econômicas levou à adoção de práticas agrícolas inovadoras, marcando o renascimento da comunidade.
A revolução nas fazendas japonesas trouxe um novo ciclo de prosperidade para Tomé-Açu e contribuiu para a recuperação ambiental da região. Técnicas japonesas ancestrais, aliadas a práticas sustentáveis aprendidas com os ribeirinhos, deram origem a um sistema de plantio que transformou áreas desmatadas em exuberantes agroflorestas.
Nesse método agrícola, não há lugar para pesticidas ou fertilizantes químicos. A diversidade de espécies é valorizada, e os insetos são considerados aliados no equilíbrio do ecossistema. Michinori Konagano, nascido no Japão e radicado no Brasil desde os dois anos de idade, é um exemplo dessa nova abordagem. Ele compartilha seu conhecimento e busca inspirar outros agricultores a adotar práticas sustentáveis.
- "Vejo essa quantidade enorme de pessoas necessitadas, certo?", disse Michinori. - "Precisamos alimentar essa população. Então por que não passar esse conhecimento para todos? Independente da colônia japonesa. Esse é meu pensamento particular."
Mesmo com a incerteza sobre as gerações futuras manterem a tradição agrícola, a comunidade japonesa de Tomé-Açu, a terceira maior do Brasil, está determinada a preservar e revitalizar a Amazônia. A transformação de áreas desmatadas em florestas alimentares é uma prova do poder de adaptação e resiliência da comunidade japonesa neste pedaço único da Amazônia.
O MDig precisa de sua ajuda.
Por favor, apóie o MDig com o valor que você puder e isso leva apenas um minuto. Obrigado!
Meios de fazer a sua contribuição:
- Faça um doação pelo Paypal clicando no seguinte link: Apoiar o MDig.
- Seja nosso patrão no Patreon clicando no seguinte link: Patreon do MDig.
- Pix MDig ID: c048e5ac-0172-45ed-b26a-910f9f4b1d0a
- Depósito direto em conta corrente do Banco do Brasil: Agência: 3543-2 / Conta corrente: 17364-9
- Depósito direto em conta corrente da Caixa Econômica: Agência: 1637 / Conta corrente: 000835148057-4 / Operação: 1288
Faça o seu comentário
Comentários