Todas as espécies de maçã-comum (Malus domestica) que existem no mundo são descendentes maçã-silvestre (Malus sieversii), ainda hoje encontrada em uma pequena faixa de terra nas montanhas Tian Shan do Cazaquistão. Os cientistas acreditam que as sementes da maçã de Tian Shan foram transportadas para fora do Cazaquistão por pássaros e ursos muito antes dos humanos as cultivarem. Quando os humanos começaram a cultivar e comercializar maçãs, a Malus sieversii já havia se enraizado na Síria, a quase 3 mil km de distância, sem a intervenção humana, mas era um asco. |
As macieiras que frutificaram destas sementes em outros locais do mundo não guardavam o frescor e o gosto da maçã silvestre, porque sementes não produzem o mesmo fruto original. Se você, por exemplo, plantar a semente de uma maçã-argentina e tiver a sorte de que frutifique depois de 10 ou 15 anos, o sabor será totalmente diferente da argentina, com dependência do tipo de solo, clima, polinizador e outros fatores.
Exatamente por isso, o cultivo de macieiras é super complicado e a criação de um cultivar como nova espécie é muito mais complicada ainda. Os cultivares de maçã crescem lentamente e são imprevisíveis. Como exemplo podemos contar a história da maçã-vermelha-McIntosh.
Em 1796, nos arredores da cidade de Ontário, no Canadá, um agricultor chamado John McIntosh descobriu 20 mudas de macieiras enquanto lenhava. Ele decidiu transplantar as árvores para um local perto da sua casa. O fruto provou ser uma delícia, mas depois de 34 anos apenas uma árvore estava viva e John nunca teve sucesso em cultivar um novo pé usando sementes.
Alguns anos mais tarde, a casa dos McIntosh pegou fogo, e a macieira que estava a 5 metros da casa queimou apenas de um lado. Contudo, o lado saudável da árvore continuou a produzir maçãs por mais de 100 anos. Felizmente, o filho de John, Allan McIntosh, descobriu o método de enxertia e utilizou partes da árvore em cavalos de outras macieiras para que ela pudesse ser cultivada em outros lugares por outros agricultores.
Graças aos esforços de Allan para propagar recortes da árvore original, a maçã-vermelha-McIntosh agora é cultivada em toda a América do Norte e em todo o mundo.
Ou seja, a semente não produz clones, o enxerto sim. Os enxertos são essencialmente a mesma árvore cortada em pedaços e cultivada novamente em outro lugar, então todos têm os mesmos genes e características, o que significa que são todos igualmente deliciosos. Mas também são todos igualmente suscetíveis às mesmas doenças e pragas, e às mudanças nas condições climáticas e preferências do consumidor.
Então, seria fácil supor seria bom ter novas variedades de maçãs para escolher, mas acontece que isso é muito mais difícil do que parece. Com outras plantas podemos criar novas variedades muito rapidamente, porque elas produzem sementes em um único ano que se transformam em descendentes com características previsíveis.
Então podemos rapidamente criar milhares de combinações de pais, escolher os melhores descendentes e repetir, criando com sucesso novas variedades em apenas três anos e trazendo-as ao mercado com a mesma rapidez. Mas como dizíamos, as árvores frutíferas são imprevisíveis. Por causa de sua genética complicada, mesmo se cruzarmos pais com boas características, quase todos os seus descendentes não frutificarão ou terão frutos medíocres.
E as árvores frutíferas também são lentas. Cultivá-las a partir de sementes leva décadas. E se você conseguir cultivar uma com características promissoras, ainda precisará enxertá-la em muitas raízes diferentes em lugares diferentes para testar se seus clones crescem bem em condições diferentes, o que leva mais uma década.
No caso dos clones serem promissores e variedade for boa, os agricultores podem ser convencidos a enxertar galhos em cavalos em seus próprios pomares e esperar mais uma década para que os galhos cresçam e se tornem árvores e produzam maçãs. Finalmente, após décadas de desenvolvimento, a variedade está pronta para serem comercializados. Mas como os consumidores são inconstantes, não há garantia de que eles vão gostar.
Apesar das grandes improbabilidades, a cada poucas décadas os criadores de árvores encontram ouro. A maçã Honeycrisp, por exemplo, estreou em 1991 após décadas de criação, cultivo e testes, e, graças ao seu sabor, bem, parecido com mel e textura crocante, bem como sua longa vida útil, tem sido uma campeã de vendas desde então.
Só para que se tenha uma ideia a Honeycrisp precisou de 31 anos para ser desenvolvida; a gala brasileira, 28 anos; a aurora-golden-Gala, 24 anos; e a fuji, 23. E é por isso que variedades de maçã bem-sucedidas não aparecem com muita frequência; as mais populares no mercado têm em média 120 anos. Na verdade, isso vale para quase todas as árvores frutíferas. A laranja-baía, por exemplo, tem 200 anos, e você pode ter comido a mesma variedade de pêra que Dom Pedro I ou comido o mesmo tipo de figo que Cleópatra.
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