![]() | A poliomielite, uma doença infecciosa provocada por vírus que pode levar à paralisia, incapacidade e até a morte, não se tornou um problema generalizado nos Estados Unidos até o início do século 20. Os americanos eram regularmente expostos ao poliovírus por meio de água potável não tratada, aumentando sua imunidade natural. As mães também transmitiam imunidade aos filhos por meio do leite materno. |

No entanto, com a modernização dos sistemas de tratamento de água e esgoto, menos pessoas passaram a ser expostas e as crianças começaram a ficar particularmente vulneráveis à infecção. E o surto de natalidade do final da década de 1940 e início da década de 1950 criou as condições ideais para a transmissão generalizada da doença.
De repente, a imunidade não era mais garantida e milhares de casos, principalmente em crianças, começaram a surgir a cada verão do Hemisfério Norte, possivelmente como resultado de flutuações sazonais em novos nascimentos.
A consequência foi o pânico generalizado, principalmente entre pais e mães. Piscinas e bebedouros eram fechados durante o verão para evitar a propagação do vírus. Adultos aterrorizados observavam seus filhos antes ativos usando muletas para apoiar membros frágeis, ou mesmo enfrentando o confinamento em enormes pulmões de aço para facilitar a respiração.
Os surtos de poliomielite ganharam velocidade no final da década de 1940 e início da década de 1950, chegando a quase 58 mil casos em 1952. Durante anos, esse vírus matou ou paralisou cerca de meio milhão de pessoas anualmente, deixando os sobreviventes dependentes de muletas, cadeiras de rodas e respiradores.
No entanto, apenas 10 anos depois, os casos de poliomielite paralítica nos EUA caíram 96%. Logo, tendências semelhantes se espalharam pelo mundo todo, e parecia que estávamos no caminho certo para erradicar a poliomielite para sempre.
Mas no século 21, o vírus começou a atacar. Então, qual é a fonte desses picos recentes e como os pesquisadores que lutam contra a poliomielite podem finalmente se livrar dessa doença mortal?
Para responder a essas perguntas, primeiro precisamos entender o verdadeiro perigo da poliomielite. A maioria dos indivíduos infectados apresenta apenas sintomas leves de gripe ou nenhum sintoma, com paralisia ocorrendo em menos de 1% dos casos.
É por isso que o verdadeiro perigo da poliomielite é o quão infecciosa ela é. Historicamente, houve três cepas de poliovírus, todas as quais normalmente entram em nossas bocas por gotículas transportadas pelo ar ou contato com matéria fecal infectada.
Isso significa que a poliomielite corre solta em comunidades com saneamento precário. E uma vez infectados, os indivíduos permanecem contagiosos por 3 a 6 semanas, espalhando um surto silencioso com poucos sintomas rastreáveis.
Foi isso que tornou a poliomielite imparável até que o médico, virologista e epidemiologista Jonas Salk encontrou uma solução no início dos anos 1950. Ele criou uma versão inativada do vírus que, quando injetada, impedia que todas as três cepas causassem paralisia. No entanto, essa vacina antipólio inativada, ou VAI, não impediu que o poliovírus vivesse em nossos corpos e se espalhasse para outras pessoas.
Parte do problema com as campanhas de vacinação para adolescentes também estava relacionada à terminologia. Durante anos, as pessoas se referiram à poliomielite como "paralisia infantil", dando a impressão de que adolescentes e adultos não corriam risco. Além disso, alguns achavam inconveniente tomar três doses de uma vacina, enquanto outros tinham medo das agulhas ou da própria vacina.
Em resposta ao atraso da vacina em adolescentes, o Instituto Nacional de Paralisia Infantil, uma organização sem fins lucrativos que distribuía fundos arrecadados pela luta por melhorias na saúde de mães e bebês), recrutou pessoas diretamente desse relutante grupo demográfico.
Em 1954, a organização começou a convidar grupos selecionados de adolescentes para visitarem seus escritórios em Nova York, entrevistando-os sobre suas percepções e reservas sobre as vacinas e equipando-os com pontos de discussão para promover as injeções de Jonas em suas casas. Os adolescentes foram motivados por experiências pessoais com sobreviventes e vítimas da pólio, para apoiar causas com as quais se importavam em uma busca por empoderamento social.
A guerra adolescente contra a poliomielite assumiu diversas formas. Enquanto as autoridades recrutavam ídolos adolescentes como Elvis Presley e Debbie Reynolds para espalhar a palavra por meio de campanhas públicas de vacinação, os próprios adolescentes escolhidos como embaixadores da vacina se tornaram celebridades ao participarem de iniciativas de vacinação populares que muitas vezes resultavam em seus nomes e fotos divulgados na imprensa. A vacina enfim virou moda com jovens se perfilando nos postos de vacinação.
Felizmente, o microbiologista polonês Albert Sabin estava criando a vacina oral contra a poliomielite, ou VAO, ao mesmo tempo. Este tratamento ainda mais barato e fácil de administrar continha variantes enfraquecidas de cada cepa do poliovírus, conhecidas como vírus atenuados. E uma vez ingeridos, eles impediam que a poliomielite se instalasse no corpo completamente.
Nas décadas seguintes, a VAI e a VAO eliminaram a poliomielite em um país após o outro. Mas perto da virada do século, essa corrida armamentista entre a engenhosidade médica e a evolução viral deu uma guinada. Cientistas descobriram cepas variantes da poliomielite, cada uma quase idêntica a uma das três cepas existentes. E sua fonte era ainda mais preocupante.
Até este ponto, uma das maiores vantagens da VAO era que seus vírus atenuados podiam se espalhar como a poliomielite selvagem, movendo-se pelo ar e imunizando indivíduos não vacinados. Mas os pesquisadores descobriram que se esses vírus enfraquecidos circulassem por várias semanas em populações subvacinadas, eles poderiam sofrer mutação em novas cepas derivadas da vacina.
Para ser claro, isso não significava que a vacina atenuada fosse inerentemente perigosa. A VAO já havia sido usada para deter o poliovírus selvagem tipo 2 em todo o mundo e erradicar todo o poliovírus selvagem das Américas, Pacífico Ocidental e inúmeros outros países. A questão era garantir que as populações atingissem um certo limite de vacinação, especificamente, pelo menos 80% de cada comunidade precisava ser vacinada para evitar que as cepas sofressem mutação.
Então, em nossa luta atual contra a poliomielite, adotamos duas abordagens para esse problema. Primeiro, os desenvolvedores de vacinas criaram formas ainda mais seguras de VAO monovalentes e bivalentes que contêm, respectivamente, um ou dois tipos de poliovírus atenuados, reduzindo o número de cepas que poderiam sofrer mutação. Essas vacinas ajudaram a erradicar os poliovírus selvagens tipos 2 e 3, e hoje estão lidando com os últimos remanescentes do poliovírus tipo 1 no Paquistão e no Afeganistão.
Pesquisadores de vacinas também desenvolveram VAOs visando a poliomielite derivada da vacina. Atualmente, a maioria dos casos de pólio é causada por surtos de poliovírus tipo 2 derivados de vacinas na África e no Oriente Médio. Então, os pesquisadores criaram uma nova vacina especificamente para combater essa cepa com risco mínimo de mutação. Em segundo lugar, os profissionais médicos na linha de frente estão usando tecnologia de ponta para garantir que todas as populações atinjam esse limite de 80%.
Ferramentas digitais como imagens e análises geoespaciais os ajudam a localizar e imunizar comunidades remotas. Sistemas de monitoramento extensivos garantem que eles não percam uma única criança. E os sistemas de vigilância de resíduos empregados em todo o mundo podem nos alertar sobre possíveis surtos. Hoje, a luta contra a pólio está em um momento crítico.
Estamos preparados para erradicar o poliovírus selvagem em um futuro próximo e, com nossas novas vacinas, erradicar as cepas derivadas da vacina pode não estar muito mais distante. Mas os médicos ainda lutam para alcançar áreas que passam por conflitos militares e distúrbios civis. E sem manter as taxas de vacinação altas, os surtos silenciosos de pólio podem facilmente aumentar.
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