O sucesso de El Salvador não se resume apenas a prender bandido e jogar a chave fora

Faz alguns dias falávamos como El Salvador se tornou uma das nações mais seguras do Ocidente com uma política de tolerância zero contra o crime. Tratava-se a princípio do Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot), inaugurado em 31 de janeiro de 2023 por Nayib Bukele, e que se tornou um símbolo de sua "guerra às gangues" e da política de segurança que lhe rendeu uma popularidade sem precedentes nacional e internacionalmente. O Cecot foi apresentado aos salvadorenhos na rádio e televisão nacionais como "a maior prisão de toda a América".

Dizia-se que era um espaço exclusivo com 40 mil vagas para aqueles "identificados como membros de alto escalão" da Mara Salvatrucha e das duas facções do Barrio 18, gangues rivais que vinham aumentando seu poder há décadas recrutando jovens e controlando territórios, e que semeavam terror, divisão e morte na nação centro-americana.

Em 3 anos, 2% da população de El Salvador só tinha guarida no Cecot, e Nayib recebeu muitas críticas por isso. O setor progressista da imprensa mundial "estuprou" um artigo do New York Times, replicando que o tratamento dado a dezenas de milhares de bandidos, agora de cabeça raspada e uniforme branco, como humanamente indigno, mas a realidade mostrou ser bem mais inteligível que as narrativas.

Membros de gangues presos no Cecot só têm direito a um advogado e alimentação básica para sobreviver. Eles não comem proteínas e perderam todas as chances de ver suas famílias. Anos antes, quando permitido, eles enviavam mensagens codificadas para ordenar execuções de rivais e suas famílias.

O popular repórter e youtuber de viagens emiradense Joe Hattab confessa que produziu um vídeo do presídio de segurança máxima, localizado em Tecoluca, departamento de San Vicente, mais pelo hype mundial. Ele disse que realmente ficou impressionado com o local inexpugnável protegido por 1 000 guardas, 600 soldados e 250 policiais, além de muros de 11 metros de altura.

Os ex-líderes de gangues e seus colaboradores hoje -e talvez pelo resto da vida- não têm privacidade nem para ir ao banheiro, mas Joe notou que algo bem diferente estava acontecendo no Centro Penitenciário La Esperanza, localizado na cidade de Mariona e ficou com uma pulga atrás da orelha. Este antigo presídio foi famoso pelo terror e pelo massacre mais mortal da história prisional de El Salvador, mas acabou se tornando um importante centro de reabilitação.

Aqui uma historinha interessante: após gravar as cenas do Cecot, Joe voltou para Dubai, produziu o vídeo e publicou no seu canal do Youtube, que em apenas 24 horas rendeu mais de 4 milhões de visualizações, algo não muito incomum para o Joe, já que o vídeo hoje coleta mais de 50 milhões de visualizações.

- "Cara... foi muito estranho e eu nem consegui dormir direito me perguntando porque a mídia internacional não estava mostrando La Esperanza", disse Joe. - "A ficha só caiu e me senti um tremendo mau caráter quando percebi que estava fazendo o mesmo. Falei com meu produtor e viajamos para El Salvador novamente e fiz um segundo vídeo falando sobre o programa de reinserção de pessoas com crimes menores na sociedade."

Joe decidiu complementar sua reportagem, que a imprensa está simplesmente ignorando em mostrar que Nayib criou em Mariona uma vila presídio, que abriga 27.800 presos, em "um centro industrial". Lá, prisioneiros comuns, não membros de gangues, aprendem ofícios; e depois podem colocá-los em prática, inclusive quando ainda estão presos. Há enormes armazéns onde consertam de tudo, desde aparelhos de ar condicionado até móveis de escritórios públicos.

Os menos habituados em práticas técnicas ou especializadas podem sair diariamente para ajudar trabalhadores do Ministério de Obras Públicas para pavimentar estradas e restaurar escolas e prédios públicos. Por essas tarefas, os presos recebem uma pequena compensação financeira, mas tem um incentivo maior: por uma jornada de trabalho de oito horas, eles têm dois dias de pena comutados.

Este programa, chamado "Ociosidade Zero", é dedicado apenas a pessoas ligadas a crimes menores ou que, por necessidade, colaboraram com atividades de gangues. Lembrando que muitas pessoas foram forçadas por membros de gangues a cometer crimes e, se não o fizessem, suas vidas estariam em perigo. Pessoas com bom comportamento e com pré-contrato de trabalho com empreiteiras também podem ter sentenças comutadas.

O presidente explicou que "em troca, eles recebem uma pena mais curta e aprendem uma habilidade com reinserção garantida na sociedade", esclarecendo também que este programa não está disponível para estupradores e assassinos, que deverão apodrecer na cadeia.

Nayib Bukele, iniciou seu primeiro mandato em 2019, com uma taxa de homicídios de 105 homicídios por cem mil habitantes e fechou 2024 com uma taxa de 1,8. Até mesmo os mais ferrenhos detratores do presidente salvadorenho foram obrigados a concordar com a efetividade das ações realizadas por ele.