A real história do "Cocaine Bear", o filme sobre o urso que ingeriu 34 kg de cocaína antes de morrer

Alguns dias atrás, navegando na Internet, fiquei surpreso ao ver que minha linha do tempo no Twitter estava literalmente cheia de pessoas falando sobre um urso drogado. Sim, um viciado em cocaína que na verdade era o protagonista do próximo filme, "Cocaine Bear". Não sei se me chamou mais a atenção o nome do filme ou o cartaz promocional que o acompanhava: a ilustração de um urso cuja silhueta é habilmente feita com um pó branco que imita a cocaína. Também me chamou a atenção de que aquela história me parecia familiar.

Ao tentar descobrir o que os roteiristas do filme estavam pensando para trazer tal história para a telona foi descobrir que o filme realmente é baseado em fatos reais. Uma história que já contamos aqui no MDig em 2021 sobre um urso que foi encontrado totalmente drogado por ingerir inadvertidamente uma quantidade desproporcional de cocaína.

Veja bem, você pode ler a curiosa história real no link apontado logo no parágrafo acima, sem medo de spoiler, porque a farra sangrenta que se segue à farra de cocaína do urso, conforme retratado no trailer, é fictícia.

O filme da Universal Pictures, estrelado por Keri Russell e o falecido Ray Liotta, é inspirado em eventos reais ocorridos em uma floresta no estado da Geórgia, no sul dos Estados Unidos, em 1985. Naquele ano, o escritório de Investigação do estado anunciou que um urso-negro foi encontrado nas montanhas do condado de Fannin morto por overdose de cocaína após encontrar um lote da droga.

Para saber como tal droga foi parar na mata, é preciso conhecer Andrew Carter Thornton II, paraquedista, policial e advogado antes de se dedicar ao tráfico de drogas, que transportava cargas de cocaína da Colômbia para os Estados Unidos em seu Cessna 404. Uma prática que terminou em 11 de setembro de 1985, quando a polícia descobriu o corpo de Thornton em uma estrada nos arredores de Knoxville, Tennessee.

Ele estava fortemente armado, usava um colete à prova de balas, carregava milhares de dólares em dinheiro e cerca de 35 quilos de cocaína, avaliados em cerca de US$ 14 milhões, em uma mochila amarrada à cintura. Ele aparentemente foi morto quando seu paraquedas não abriu quando saltou de seu avião, que as autoridades descobriram mais tarde não muito longe.

No entanto, Thornton não foi a única vítima naquele dia. Um caçador descobriu um urso preto morto na mesma área e, infelizmente, ao lado da mochila que continha toda a cocaína.

Quando as autoridades descobriram o corpo do urso em 20 de dezembro, todos os 40 sacos de cocaína estavam abertos e vazios. O legista-chefe do Laboratório Criminal do Estado da Geórgia explicou então que o estômago do urso estava "literalmente cheio até a borda com cocaína", embora estimasse que o urso havia absorvido apenas 3 a 4 gramas da substância em sua corrente sanguínea.

Mas a história não parou por aí. O legista-chefe achou uma pena esquecer o urso e pediu a um amigo para dissecá-lo. Eles presentearam o urso para a Área de Recreação Nacional do Rio Chattahoochee, já com o nome de Pablo Eskobear. No entanto, quando foi transferido para protegê-lo em caso de incêndios florestais, ele sumiu. Posteriormente, apareceria em uma loja de penhores, onde foi comprado pelo cantor country Waylon Jennings. Os restos mortais estão agora em um shopping.

A próxima coisa que sabemos sobre o animal é que ele chegará às telas este mês na forma de um filme. E que o público poderá curtir em um thriller o que teria acontecido se o urso tivesse causado o caos antes de morrer de overdose. Ele teria enlouquecido atacando todo mundo como faz no filme? Não faz muito sentido, segundo especialistas.

- "Se ele realmente estivesse com o estômago cheio de cocaína e com as concentrações relatadas detectadas, provavelmente teria morrido muito rapidamente", explicou Ryan Marino, médico toxicologista da Universidade de Cleveland. - "Não sei se os ursos gostam do sabor ou mesmo dos efeitos da cocaína, então não tenho uma boa resposta sobre por que ele comeu tanto."