Em 1938 iniciava-se em Harvard o estudo mais completo sobre o bem-estar de homens adultos. Em 1966, George Vaillant, então com 32 anos, tomou as rédeas do que ficou conhecido como Grant Study. Basicamente acompanhou a vida de 268 homens que estudaram em Harvard para determinar que fatores predizem o bem-estar. Em 2015 ele George publicou as conclusões no livro "Triumphs of Experience", onde sugere que o denominador comum do bem-estar são as relações íntimas. |
Após décadas de entrevistas, pesquisas e viagens para visitar os voluntários do estudo, Vaillant acredita que a essência de nossa existência neste mundo não está somente em "ser" senão em "ser com", a alteridade está na chama da vida que permite viver mais e melhor.
Quando formularam este experimento, os pesquisadores, segundo os preconceitos da época, consideravam que os fatores mais importantes a seguir tinham a ver com a fisionomia de um homem: sua estatura, seu tipo de corpo e inclusive a importância do tamanho de seu pinto. Este último, infelizmente não mudou muito.
Mas voltando ao Grant Study: não permite asseverar que o corpo (ao menos não em seu tamanho) é destino (ou felicidade). Em vez disso as características mais decisivas têm a ver com o aspecto qualitativo das relações pessoais. Primeiramente, os homens que vinham de um meio familiar cálido tiveram uma maior ascendência no exército, durante a Segunda Guerra Mundial, que aqueles que cresceram em lares mais frios e com relações parentais menos amorosas.
O tipo e a beleza corporal ou facial resultou inútil para predizer como um homem se daria bem na vida. Também nem sua afiliação política ou inclusive sua classe social, mas ter um alto coeficiente de carinho na infância foi um preditor muito alto de bem-estar. Curiosamente, os homens que mostraram ter um melhor vínculo emocional com seu pai conseguiram viver mais tempo e encontrar maior bem-estar e estado pleno de felicidade, segundo o índice de Vaillant.
Há que salientar que estas relações de carinho entre pai e filho primavam pela educação e responsabilidade, muito diferente do que vemos hoje quando alguns pais tratam os filhos como reizinhos, fazendo tudo o que os pequenos desejam. O resultado pode ser apreciado no dia a dia onde as crianças acham que são donas do mundo.
Voltando novamente ao Grant Study: dos 31 homens no estudo que não conseguiram desenvolver vínculos íntimos, só quatro permanecem vivos. Enquanto aqueles que sim conseguiram formar relações íntimas, mais de 1/3 continuam desfrutando de sua família e relação. Casal e filhos, esse parece ser o verdadeiro elixir da longevidade dentro de nossa sociedade.
Vaillant considera que as pessoas podem eludir experiências negativas na infância desde que tenham uma influência íntima positiva, a qual, sugere, ofusca aquilo que pode ter saído errado mais cedo. De modo que mais do que falar de idílios infantis, o importante é estabelecer uma relação íntima que guie o desenvolvimento, para além do aspecto das vicissitudes. Outro dos fatores que, segundo ele, se correlacionam são a ordem, a disciplina e a capacidade afetiva.
Ainda que para alguns, àqueles emocionalmente introvetidos ou que não conseguimos manter as relações íntimas, este estudo poderia parecer como uma condenação psicológica (um pouco freudiana), Vaillant notou que algumas pessoas conseguiram mudar já na maturidade, inclusive aos 80 e 90 anos e aprender novos truques: basicamente abrindo seu coração à expressividade e à vinculação emocional. Alguns homens conseguiram "florescer" entre os 60 e 70 anos, abrindo uma brecha de esperança no velho saco de ossos. Segundo escreve David Brooks para o NY Times:
- "Os homens do estudo frequentemente tornaram-se mais conscientes de suas emoções ao envelhecer, mais aptos a reconhecer e expressar emoções. Parte desta explicação é biológica. As pessoas, especialmente os homens, tornam-se mais alertas de suas emoções ao envelhecer[...] Parte disto é provavelmente histórico. Nos últimos 50 anos, a cultura americana descobriu o poder das relações. A masculinidade mudou, ao menos um pouco".
A visão de Brooks sugere que existe uma pequena revolução emocional, inclusive fala de um efeito Grant similar ao efeito Flynn (que descreve um progressivo aumento nas pontuações QI.), mas em questões de aumento de "inteligência emocional em massa", ou "o coração torna-se mais inteligente", com a idade e com a evolução cultural. Isto é discutível, algumas pessoas poderão considerar que em realidade os homens adultos se tornam mais duros -são os idosos e as crianças que tendem à ternura-.
Mas talvez e somente talvez estejamos sim atravessando um período de reconhecimento do valor emocional, uma preponderância sobre o racional e material que antecipa uma mudança de paradigma -algo possivelmente relacionado a um gradual giro de uma sociedade de domínio masculino a uma maior igualdade e a uma maior admissão das qualidades relacionadas historicamente com o feminino-.
Sabemos cientificamente que o contato humano (físico e psicológico) tem efeitos positivos na saúde (entre e quanto mais íntimo, mais poderosos). Sabemos que a forma principal na qual se encontra este contato humano, esta intimidade, é através da abertura emocional, fundamentalmente do desenvolvimento de capacidades empáticas. Seria interessante realizar provas psicométricas e eletroencefalográficas nos homens do estudo para determinar sua facilidade de formar laços de empatia -isto e sua correlação com um índice de felicidade-. De qualquer forma fica, para aquele que quer emular os senhores felizes do estudo de Grant, a tarefa de aguçar sua sensibilidade e percorrer o caminho da desnudez emocional com afinco, tanto como pai tanto como filho ou marido, desta forma talvez podendo subverter a predeterminação das primeiras experiências infelizes.
Fonte: NY Times.
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