A cenoura cor de cenoura é produto do nacionalismo holandês

Quem escuta a palavra "cenoura" imediatamente associará com uma cor laranja intensa. Inclusive, poderíamos dizer que laranja e cenoura são sinônimos hoje em dia. Mas isto nem sempre foi assim, as cenouras são uma raiz comestível relativamente moderna. Conquanto a planta em si foi cultivada durante milhares de anos e utilizada de forma medicinal, foi preciso chegar ao século X para que camponeses no Irã e Iraque começassem a selecionar pés de cenoura conforme o tronco de sua raiz cada vez mais grosso, já que este era muito rico em nutrientes.

Originalmente de cor púrpura (quase o mesmo da beterraba) e sabor azedo, uma mutação fez com que a raiz se tornasse amarela e com melhor sabor, esta cenoura rapidamente começou a ser comercializada na Ásia e Europa, chegando a Espanha no século XI e rapidamente no resto de Europa durante os seguintes três séculos. Eventualmente, começaram a cultivar uma infinidade de variedades por todo mundo, sendo que na Inglaterra a variedade amarela era a preferida.

Retrato de Guilherme I, Príncipe de Orange, feito pelo pintor renascentista Adriaen Thomasz Key

Aqui foi onde ocorreu tão singular curiosidade, quando no século XVII camponeses holandeses da comunidade agrícola de Hoorn começaram a cultivar cenouras selecionando a cada nova colheita as mais laranjas para replantio até, eventualmente, chegar à cor atual para honrar o taciturno Guilherme I, Príncipe de Orange, herói nacional; e não qualquer laranja, senão uma idêntica ao que aparece na bandeira do príncipe.

Prinsenvlag - Bandeira do Príncipe: modelo do qual derivou a atual bandeira dos Países Baixos

O poder naval e comercial dos Países Baixos na época fez com que esta "variedade comemorativa" se popularizasse no mundo inteiro. Isto, não obstante, foi algo muito afortunado, já que o componente que faz com que as cenouras sejam laranja é o beta caroteno, um pigmento vegetal extremamente rico em vitamina A e que também emprestou este gosotoso sabor meio adocicado à cenoura.