Com a popularização dos automóveis veio junto um fenômeno muito conhecido na atualidade: a fúria da estrada, que foi muito bem retratada na animação Motor Mania produzida pela Disney e lançado em 1950. O curta mostra o Pateta se transformando com uma personalidade do tipo de Mr. Hyde e demonstrando como não se deve dirigir. O carro, como objeto de poder, faz com que o Senhor Walker, um cara atencioso e simpático, se transforme em Senhor Wheeler, um indivíduo grosseiro, estúpido, e que desrespeita todas as leis de trânsito. |
Guardando as devidas particularidades e referências, o desenho poderia ser feito hoje em outro contexto: trocando o volante pelo teclado. Tudo indica que algumas pessoas pensam que ganham super-poderes quando se sentam atrás de um teclado de um PC on-line.
Esta é um ocorrência contemporânea provocada pela grande agilidade e facilidade que temos agora de trocar conhecimento e interagirmos com tantas pessoas, seja nas rede sociais, blogs ou nos demais sites.
Basta alguns poucos cliques para podermos entrar em contato com uma multidão que pode nos ler e ver em e de quase qualquer lugar. Mas o que algumas pessoas fazem? Ao acreditarem que estão "protegidas" atrás de um IP, começam a vociferar e disparar toda classe de insultos, perseguindo vítimas e promovendo preconceitos.
Algumas dessas pessoas desagradáveis tem uma percepção muito forte de sua virtualidade. Consideram que a rede não tem nada a ver com o mundo real, que é um jogo e que tudo vale. Mas o anonimato e a ausência de castigo, ainda que significativos, não são as principais motivações do troll. Diversos estudos assinalam o narcisismo (junto à psicopatia) como o traço de personalidade mais frequente neste tipo de indivíduos e, portanto, a questão que se propõem antes de agir é: "Que pensarão os demais de mim se eu escrever isto? Me fará mais popular?"
E quando olham a seu redor chegam a uma conclusão: podem ser agressivos porque nas redes todo mundo é. Todo mundo também tem razão. Se antigamente encontrávamos os grandes especialistas em suas respectivas universidades ou nas áreas de atuação, hoje eles estão todos no Facebook. Todos são especialistas em economia, política, religião ou porque cabrita caga bolinha.
Twitter é a rede mais afetada pelo "estupidização" e ódio virtual. Vale uma fortuna, mas é uma das poucas plataformas que ainda não foi adquirida por um gigante da tecnologia. E tentou, mas no ano passado, quando a venda parecia um fato, a Disney e a Salesforce desistiram. Em ambos os casos, o fenômeno troll foi uma das causas fundamentais da decisão. O problema é que sua junta diretiva demorou demais à hora de tratar com o abuso e com os trolls e a rede perdeu um turbilhão de usuários por causa disso.
"Mas a culpa é do ________________________"(preencha com o nome de qualquer rede social). Esta é uma desculpa que serve para todos hoje em dia. Mas isso é verdade? Será que as redes sociais nos tornaram mais agressivos, mentirosos, invejosos e desagradáveis? Ou simplesmente serviram para nos mostrar uma realidade que sempre esteve aí, mas que não víamos nem queríamos ver devido as nossas acolhedoras zonas de conforto?
No Brasil não é tão fácil identificar um troll à primeira lida porque em qualquer debate ou argumentação a agressividade chega pelos dois lados e a gente não sabe quem é quem. Mas tem uma característica muito patente no troll brasileiro: ele é invejoso. Se descobre que alguém é só um pouco conhecido e ele não é ninguém, sua maneira de se sentir melhor é insultando como um marinheiro bêbado. Quando descobre que seu comentário grosseiro foi apagado da área de comentários, dá piti anthony_garotinhiano reclamando de censura.
A rede é uma grande ferramenta para aprender, debater e compartilhar, mas também pode ser um espelho que reflete uma imagem da sociedade que não nos agrada e que infelizmente está ai fora. Não obstante, quando a comunicação se transforma em abusiva todo esse grande potencial se perde e evitá-la é nossa missão prioritária. Continuaremos aumentando o número de ferramentas disponíveis [bloquear, silenciar, filtrar...] para que os usuários controlem sua experiência e se sintam a salvo (não é questão de censura).
De qualquer forma também, há de frisar que existe um certo amplificador nas reclamações de políticos, jornalistas e famosos sobre o assunto. Eles costumam exagerar a violência nas redes sociais por uma questão de ego. Antes, quando o Quarto Poder estava nas mãos apenas da mídia convencional, eles dificilmente ouviam críticas e reprovações e agora sim. O insulto nesse caso é o que menos dói, o que fere as "estrelas" e que causa siricutico é que as pessoas demonstrem que elas se equivocaram, que fizeram um péssimo trabalho.
Não conseguimos falar de política sem brigar. Nem de futebol. Nem sequer de poesia e música. Nas redes sociais todos somos o mais afetado pela morte e o mais emocionado pelo prêmio. O mais sarcástico quando comenta e o mais ofendido quando é comentado. Todos temos certeza que o mal educado é o outro. O objetivo não é conversar, é ganhar. E no entanto, irrompe um diagnóstico que nos une...
Não são as redes sociais, somos nós. Eu e você!
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