Ao longo de um certo período da história no mundo ocidental era praticamente impossível conseguir um divórcio. Até mesmo a realeza tinha problemas nessa frente, talvez o exemplo mais famoso tenha sido a situação do rei Henrique VIII, um homem cujo desejo de anular um casamento com Catarina de Aragão o levou a iniciar um ramo inteiramente novo do cristianismo, virtualmente idêntico ao antigo, exceto que ele era a autoridade final e cabeça em vez do Papa. |
No entanto, por volta do século 14, em certas partes da Europa, surgiu uma forma de uma mulher se divorciar, simplesmente afirmando que seu marido não conseguia consumar o casamento ou, para dizer de maneira mais clara, não era capaz de fazer neném.
Embora, tecnicamente, um homem também pudesse usar essa mesma desculpa para terminar um casamento, o estigma social ligado a não conseguir dar um tapa na periquita era tão grande que não é possível encontrar nenhum exemplo de um homem usando essa desculpa para anular um casamento, apesar de que isso era basicamente um passe livre para qualquer casamento se o homem quisesse, dado que ele simplesmente não tinha que armar a barraca durante o julgamento.
Isso tudo nos leva aos chamados "julgamentos por impotência", que, em seu auge, registrou cerca de dez mil ou mais casos em toda a Europa apenas no século XVII.
Como você provavelmente pode imaginar, o ato de provar a inocência desse crime em particular no tribunal era naturalmente difícil, apesar de tudo que o réu precisava fazer era, bem, ficar ereto, com o ocasional requerimento de mostrar que era capaz de estourar a champanhe também.
Então, como era esse processo? Parece ter variado um pouco de caso para caso e de país para país, mas geralmente os julgamentos ocorriam nos tribunais eclesiásticos, embora tenhamos encontrado exemplos de casos que ocorreram em um tribunal de justiça, um dos quais nós vamos falar em breve.
Antes de um julgamento como esse, era necessário um longo período de espera, de até três anos, para ver se, em algum momento, o homem era capaz de violar a diretiva principal. Se, depois desse intervalo de tempo, a mulher ainda afirmasse que o espeleólogo do marido nunca havia explorado sua caverna de maravilhas, então começava um julgamento apropriado.
Durante o julgamento, potenciais testemunhas de quaisquer atos relevantes em questão, como criados e amigos, eram questionados sobre quaisquer detalhes íntimos que conhecessem sobre o casal. Por exemplo, considere o caso de um tal Nicholas Cantilupe. Thomas Waus, testemunha no julgamento e amigo da esposa de Nicholas, Katherine Paynel, relatou o que ouvira de Katherine:
Ela me contou que muitas vezes tentava encontrar o lugar dos ... genitais de Nicholas com as mãos quando deitava na cama e ele dormia... Ela não podia acariciar nem encontrar nada ali e que o local em que os genitais de Nicholas deveriam estar era tão plano quanto a mão de um homem.
Mas ninguém ficou sabendo o que de fato Nicholas tinha (ou não tinha), quando o julgamento parou abruptamente depois que ele fugiu. Isso é tudo que a história recordará de Nicholas Cantilupe.
As mulheres também podiam ser submetidas a numerosos testes, às vezes bastante invasivos, particularmente se o homem, de outra forma, parecesse ser capaz de dar uma sabugada quando ele próprio fosse examinado. O teste mais recorrente para as mulheres era o tribunal tentando determinar se a mulher que fazia as acusações ainda era virgem.
Existiam várias formas de testar isso, mas uma das mais comuns era verificar com um espelho a existência do hímen. Naturalmente, este tipo de exame era dificilmente conclusivo, e mesmo que fosse determinado que a mulher já não era mais virgem, algumas simplesmente afirmavam que seu marido tinha usado os dedos na falta de capacidade de usar o órgão.
Outras coisas com as quais as mulheres tiveram de lidar durante os julgamentos de impotência eram falar sobre suas preferências sexuais, incluindo a frequência com que faziam sexo e, criticamente, por onde e em que posição. Este último era considerado especialmente importante porque fazer sexo em outra posição que não fosse a do missionário era considerado, se não um pecado, pelo menos grosseiro, já que essa posição era vista como a melhor maneira de engravidar. Por outro lado, se o homem só estivesse disposto a entrar em casa pela porta dos fundos, era considerado não cumpridor de suas obrigações conjugais, também.
Além disso, se o homem tivesse problemas para terminar a ação quando o casal fizesse sexo, a mulher poderia usar a incapacidade do homem de dar uma demão de tinta no jardim dela como evidência contra ele.
Já os testes que os homens tiveram que suportar eram igualmente invasivos e, do ponto de vista social, potencialmente ainda mais humilhantes, já que eram inadequadas as formas como um homem era desafiado, e de uma maneira extremamente pública, com notas de julgamento obscenamente populares.
Novamente, exatamente o que aconteceu aqui parece ter variado um pouco de julgamento para julgamento e de região para região, mas a primeira coisa a ser determinada era se o homem tinha capacidade de ter uma ereção.
Um teste particularmente divertido (para quem via, lógico), que costumava ocorrer com frequência na Espanha, envolvia alternadamente mergulhar o pinto em água fria e depois quente para ver se levantaria depois.
Em outros casos, há relatos de mulheres que eram, digamos, especialistas, "examinando" o dito cujo e dando suas notas e avaliações perante o tribunal. Por exemplo, em uma desses julgamentos, temos esse relato dos resultados do exame de três mulheres de um tal de John Sanderson. Sua esposa, Tedia Lambhird, acusou-o de ser impotente:
O membro do John é como um tripa vazia de pele mosqueada e não tem nenhuma carne, nem veias na pele, e a cabeça é totalmente preta. A testemunha acariciou-o com as mãos e ele não expandiu nem cresceu. Questionada se ele tem um escroto com testículos, ela disse que ele tem a pele de um escroto, mas os testículos não estão pendurados no escroto, mas estão conectados com a pele, como é o caso de crianças pequenas.
E, sim, este relato do pobre little john do John é toda a história que o mundo se lembrará dele. Descanse em paz John Sanderson. Aposto que, mesmo no auge da sua vergonha, você nunca considerou que, mais de seis séculos depois, uma descrição de seus órgãos genitais ainda seria assunto de um blog.
Em outros casos, um médico (não médica) podia ser contratado para estimular o falo masculino para ver se ele dava no coro. Compreensivelmente, até mesmo homens capazes de se levantar normalmente à ocasião se esforçaram para fazê-lo nessas circunstâncias.
Para sorte dos homens, muitos dos que faziam parte do julgamento eram simpáticos a esta situação, e por isso falhar em libertar o Kraken não era geralmente visto imediatamente como um sinal definitivo de que o homem não era capaz de espocar a silibrina sob circunstâncias mais normais.
Além disso, alguns homens afirmavam que sua incapacidade de se apresentar durante o julgamento era porque a esposa havia contratado um feiticeiro para amolecer seus perus, como foi o caso de Jacques de Sales. Em 1603, Jacques foi submetido a tal julgamento e, quando não conseguiu saudar os jurados, afirmou que sua própria esposa havia lançado um feitiço em seu pênis para impedir que ele dissesse oi.
Dada a incerteza de tudo isso e as tentativas de dar aos homens em questão todas as oportunidades para mostrar que poderiam invadir a fortaleza cor-de-rosa, esses julgamentos costumavam ser procrastinados por algum tempo, até mesmo meses, ou, em alguns casos, a decisão seria apenas após três anos para ver se as coisas se resolviam, literalmente, no final.
Isso tudo nos leva ao que foi geralmente o teste final e mais definitivo: no Julgamento por Congresso, tipicamente praticado na França, esperava-se que os homens ficassem eretos em frente à Corte, copulando com suas esposas ao comando.
Só para ter uma idéia de quão potencialmente humilhante isso poderia ser para o homem, especialmente considerando que as anotações do julgamento seriam em breve publicadas, mencionaremos uma em particular que ocorreu em Reims, na França, onde observaram:
Os especialistas esperaram em volta de uma fogueira. Muitas vezes ele gritava: “Vai! Agora vai!”, mas sempre era um alarme falso. Em certo momento a esposa riu e disse: “Não se apressem tanto, porque eu o conheço bem”. Os especialistas disseram que depois disso nunca riram tanto nem dormiram tão pouco naquela noite.
Depois que a ação era realizada, ou pelo menos a tentativa, os especialistas examinavam o casal intimamente, bem como as rosquinhas, para ver se tinham sido devidamente gratinadas.
No entanto, como dá para imaginar, dar um tapa na tarraqueta com alguém que você provavelmente odeia neste momento, bem como com um público próximo e seu casamento em julgamento, não era exatamente um cenário ideal para o homem, especialmente para os homens que podiam ter problemas para bater um papo cabeça.
Esse foi o caso de um homem chamado René de Cordouan, Marquês de Langey. Em 1657, o marquês foi levado a julgamento, não nos tribunais eclesiásticos, mas pelo Supremo Tribunal de Paris. Sua esposa de 17 anos de idade, Mademoiselle Marie de St Simon de Courtemer, alegou que nos quatro anos que ficaram casados, ela só tinha observado a minhoca mole dele absolutamente destituída de movimento.
Curiosamente, neste caso, ansioso para provar suas habilidades na cama para as massas, o próprio Langey exigiu o Julgamento por Congresso, apesar de até ali ter parecido que o julgamento poderia seguir seu caminho já que ele demonstrara as habilidades necessárias e a própria dama foi considerada não virgem pelo exame.
Infelizmente para Langey, a pressão para fazer saliência, com receio de que sua reputação fosse manchada para sempre, foi demais. Depois de várias horas de tentativas, ele não conseguiu carimbar a perseguida. Provavelmente não ajudou muito o fato de que um júri de quinze pessoas atentas observava o tchaca tchaca na butchaca.
Assim, o casamento foi dissolvido, ele foi forçado a pagar todas as custas judiciais, se tornou alvo preferido de piadas entre a nobreza e o povão, teve que devolver o dote de sua esposa e foi proibido de se casar novamente.
Ocorreu que, após o divórcio, apesar da ordem judicial contra ele, Langey tocou a vida em frente e arrumou outra esposa, Diana de Navailles. Desta vez ele não teve tais problemas, conseguindo gerar sete filhos com ela. Uma vez que sua virilidade foi provada, ele apelou com sucesso sua sentença anterior e seu casamento com Diana foi oficialmente confirmado.
As mulheres da classe alta eram muito mais propensas a fazer alegações de impotência contra seus maridos, já que ambos tinham os meios para contratar um advogado, e pagavam se ela perdesse, e também normalmente teriam melhores perspectivas para um futuro marido mais capaz de dar lhe um amor carnal que o anterior não tinha.
De fato, na França aproximadamente 20% de todas as ocorrências conhecidas de julgamentos por impotência foram entre membros da nobreza, apesar desses representarem apenas cerca de 3% da população em geral.
No final, vários casos famosos em que homens supostamente foram considerados impotentes durante um julgamento e conseguiram fazer filhos depois, começaram a mudar as marés contra tais julgamentos. Eventualmente, chegaram também outras possibilidades de divórcio, fazendo com que julgamentos de impotência caíssem no esquecimento no século XIX.
No entanto, não nos esqueçamos de que, por um breve período na história, os homens podiam literalmente ser levados a um julgamento por não serem capazes de levar o gnomo careca para um passeio na floresta encantada.
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Comentários
Prezado Admin,
Seguramente um dos artigos mais engraçados e informativos que já li.
A história não é chata, é hilária.
Por mais artigos assim.
:clap: :clap: :clap:
Infelizmente naquela época ainda não tinha sido inventada a eletricidade...
Caso já existisse poderiam utilizar um recurso muito eficaz chamado "fio terra"...
Costuma resolver...
Que baixaria!