Por que um pedaço de terra ao longo do Danúbio, entre a Croácia e a Sérvia, permanece não reclamado?

Por que um pedaço de terra ao longo do rio Danúbio que fica entre a Croácia e a Sérvia permanece não reclamado por nenhum dos países. Acontece que tudo se resume a uma disputa de fronteira. A Sérvia afirma que sua fronteira termina no Danúbio e a terra não é deles, enquanto a Croácia se recusa a reivindicar a terra, pois não aceita a reivindicação da Sérvia em relação à fronteira fluvial. Ou seja, do ponto de vista da Sérvia, a fronteira é o rio Danúbio como é hoje e o pedaço de terra não reclamado a oeste do rio, portanto, é legitimamente parte da Croácia.

Mas a Croácia não reivindica isso porque se eles o fizessem, isso significaria que eles reconhecem o rio Danúbio como existe hoje como a fronteira entre eles, assim como a Sérvia, e isso significaria perder todas as suas reivindicações muito mais valiosas para a terra mais abundante na região leste do rio.

Para tornar as coisas mais complicadas, muitas pessoas tentaram reivindicar essa propriedade, incluindo um político tcheco que, Vít Jedlička, invocou a doutrina terra nullius (terra de ninguém) em seu esforço para estabelecer um novo país chamado República Livre da Liberlândia.

Infelizmente, nem a Sérvia nem a Croácia permitirão que uma nova nação emerja de um pedaço de terra tão próximo de suas respectivas fronteiras.

A Sérvia afirmou antes que, embora ache todo o assunto trivial, o hipotético novo estado de Liberlândia não infringe a fronteira sérvia, que eles dizem ser delineada pelo Danúbio, enquanto a Croácia declarou que após a arbitragem internacional, a terra deve ser dada à Sérvia ou Croácia e não a terceiros enquanto eles não reivindicarem a terra para si.

Em outras palavras, não queremos, mas ninguém mais pode tê-la. E parece não haver resolução à vista, pois nenhum país quer reivindicar a terra, mas não quer reconhecer a soberania de Liberlândia. Mas a questão sempre permanecerá fluida, como em qualquer outra disputa de fronteira.

A proclamação da micronação -ainda sem o reconhecimento da comunidade internacional- ocorreu em 15 de abril de 2015 pelo atual presidente libertário Vít Jedlička. A área em questão não tem nenhuma infraestrutura além de uma casinha, sede do governo, ao lado de uma várzea e uma ilhota no Danúbio.

O site oficial de Liberlândia afirma que a nação foi criada devido à referida disputa fronteiriça entre Croácia e Sérvia, citando que algumas áreas ao leste do Danúbio são reivindicadas por ambos os países, enquanto algumas áreas a oeste, incluindo Liberlândia, são consideradas parte da Sérvia pela Croácia, mas a Sérvia não as reivindica.

A república em questão tem apenas 7 quilômetros quadrados de área, aproximadamente o mesmo tamanho de Gibraltar, e 7 habitantes. A área vem sendo administrada pela Croácia desde a Guerra da Independência Croata.

Ainda que não haja reconhecimento diplomático de Liberlândia por nenhum membro das Nações Unidas, várias entidades e micronações já reconheceram a sua soberania, entre eles, o Reino do Sudão do Norte, uma micronação autoproclamada, o Reino da Enclava, que reivindica parte de uma porção disputada ao norte de Liberlândia, o Principado de Sealand indicou apoio, e também a Somalilândia, outro estado não reconhecido.

Liberlândia é um caso curioso porque, a princípio, nenhum dos atores que poderia reivindicar o controle sobre a região parece estar interessado em fazê-lo. Mas isso provavelmente continuará sendo uma curiosidade com consequências insignificantes a nível internacional. Para o restante dos territórios disputados do mundo, a violência e a diplomacia continuarão sendo as principais ferramentas para reivindicar a propriedade.