Astronauta da Nasa e diretor da Roscomos quase se pegaram no tapa no Twitter

A invasão de Ucrânia por parte de Rússia está causando grandes tensões na associação da Estação Espacial Internacional entre Estados Unidos e Rússia aparentemente até um ponto de ruptura. Agora, o astronauta da NASA Scott Kelly e o diretor geral de Roscosmos, Dmitry Rogozin, se enfrentam no que é uma batalha de Twitter inusualmente concisa. Flutuando na órbita terrestre baixa, a Estação Espacial Internacional foi, em sua maior parte, um espaço seguro para que todos trabalhem juntos, mas esta precária relação chegou a um novo ponto baixo.

A invasão russa provocou uma série de sanções internacionais, o que levou a Rússia a deter os lançamentos de Soyuz na Guiana Francesa e deixar de vender motores de foguetes a empresas americanas. Rogozin inclusive chegou a tuitar que as sanções dos EUA poderiam obrigar a Rússia a deixar que a ISS caia em solo americano ou europeu.

Em 3 de março, a companhia de satélites britânica OneWeb suspendeu seus lançamentos no cosmódromo de Baikonur, em resposta à invasão. Um dia antes, os engenheiros da plataforma de lançamento retiraram as bandeiras americanas e japonesas do foguete Soyuz de fabricação russa, para deleite de Rogozin.

- "Os lançadores em Baikonur decidiram que sem as bandeiras de alguns países, nosso foguete seria mais bonitos", escreveu em um tweet Rogozin, um adulador de Putin e frequente agitador on-line.

- "Dimon, sem essas bandeiras e as divisas que trazem, seu programa espacial não valerá nada", tuitou Scott Kelly, um astronauta aposentado da NASA conhecido por passar um ano completo na estação. - "Talvez você possa encontrar um trabalho no McDonald's se ainda existir um na Rússia." De fato, o McDonald's anunciou ontem que deteria todas suas operações no país.

Rogozin, ex vice-premiê, responsável pela indústria de defesa, apóia claramente a invasão e está totalmente disposto a utilizar a Roscosmos como plataforma para promover o conflito em curso.

- "Baikonur se solidariza com as ações de nossas Forças Armadas, apóia nossos rapazes que cumprem com seu dever patriótico e militar", disse Rogozin.

Kelly, que fala russo com fluidez, como resultado de seu treinamento como astronauta, expressou sua indignação pela invasão, proporcionando traduções ao russo de artigos de notícias em inglês e outra informação através de Twitter. A liberdade de imprensa atualmente não existe na Rússia, e o Kremlin envia propaganda e desinformação diretamente aos meios de comunicação estatais.

A hostilidade de Rogozin com a colaboração internacional deu outra guinada escuro em 5 de março, com a publicação de um vídeo produzido pela Roscosmos no qual mostra aos cosmonautas russos saindo da ISS. Após se despedirem sarcasticamente, os cosmonautas partem a bordo do segmento russo separado, deixando atrás o astronauta da NASA Mark Vande Hei, que se encontra atualmente na ISS. Esta não é a primeira vez que Rogozin ameaça em abandonar a ISS.

Rogozin, claramente frustrado pelos mordazes tweets de Kelly, emitiu uma resposta irada que já eliminou, na qual dizia:

- "Pare, imbecil! Caso contrário, a morte da ISS estará em sua consciência."

- "Dimon, por que apagou este tweet. Não quer que todos vejam o moleque que você é em realidade?", respondeu Kelly. Dimon, por verdade, é o apelido familiar de Dmitry.

Nesse mesmo dia, Rogozin bloqueou o astronauta no Twitter. Kelly disse à CNN que é a primeira discussão que teve nas redes sociais, mas alegou que não se arrepende.

É difícil saber para onde vai a disputa, mas nem Kelly nem Rogozin parecem dispostos a voltar atrás. É justo dizer que a relação entre Estados Unidos e Rússia nunca voltará a ser a mesma. A pergunta agora é o que acontecerá com a ISS, já que o posto avançado orbital não está programado para aposentar até o final da década.