Nos últimos anos, uma forma perturbadora de turismo em favelas decolou, com visitantes ricos comprando um vislumbre da vida dos muito pobres. Experimente digitar "volunteer abroad" na busca do Google e a primeira página será apenas de anúncios. Se tornou um grande negócio lucrativo vender experiências de voluntariado em países pobres. Insiders chamam isso de "turismo da culpa". Todos aqueles adolescentes entrando em anos sabáticos, entusiasmados em prestar ajuda e trabalhos que nunca fizeram em casa ou na sua própria comunidade. |
Junte se a isso aqueles profissionais de meia-idade gastando uma pequena fortuna para dar algo de volta à sociedade. E esses novos aposentados determinados a gastar seu tempo de inatividade espalhando um pouco de felicidade. Lógico, não existe nada de errado com isso, pois o altruísmo faz bem para a alma e a saúde.
Um meta-estudo sugeriu que as pessoas que experimentam os mais altos níveis de felicidade são as mais bem-sucedidas em termos de relacionamentos próximos e trabalho voluntário. Em comparação, a caridade na forma de doações monetárias, que é outra forma de altruísmo (o voluntariado sendo uma delas), também é conhecida por ter um efeito semelhante.
Outro estudo descobriu que ajudar os outros está associado a níveis mais altos de saúde mental, acima e além dos benefícios de receber ajuda. Em relação ao aprendizado em serviço, os alunos de graduação que se voluntariaram de 1 a 9 horas por semana eram menos propensos a se sentirem deprimidos do que os alunos que não se voluntariaram.
O problema chega quando pessoas mal intencionadas se aproveitam das nossas necessidades empáticas para ganhar dinheiro e promover todo um setor de turismo duvidoso, para dizer o mínimo, que ao final não se presta ao seu objetivo. Na Ásia, inacreditavelmente, os turistas pagam viagens para distribuir comida para famílias rurais pobres.
Na África, empresas de turismo promovem pacotes com visitas a um orfanato ao lado de alguns dias na praia ou para observar animais selvagens. Os críticos argumentam que entrar para tirar fotos de crianças órfãs, que podem ter visto os pais recentemente definhando até a morte, as reduz ao status de leões e zebras na savana.
Muitos desses orfanatos permitem que os turistas trabalhem com crianças. Mas o que diríamos se estrangeiros não controlados entrassem nas casas de nossos filhos para abraçar e cuidar das crianças? Ficaríamos chocados, então por que os padrões deveriam ser reduzidos no mundo em desenvolvimento? Sim, os recursos podem ser escassos, mas, assim como aqui, os especialistas querem crianças no ambiente familiar ou criadas em lares amorosos, não no número explosivo de instituições precárias.
A dura verdade é que o "volunturismo" tem mais a ver com a auto-realização dos ocidentais do que com as necessidades das nações em desenvolvimento. Em Gana, assim como na África do Sul e no Camboja, houve um boom de orfanatos não registrados. Autoridades da Unicef disseram que o bem-estar das crianças é secundário aos lucros e acredita-se que menos de um terço da renda seja destinada aos cuidados infantis.
Muitos viajantes carregam uma ideia ingenuamente romântica de fazer o bem ao lado de sua bagagem. Infelizmente, eles são orientados por seus corações e não por suas cabeças e, sem saber, apóiam ambientes que podem ser abusivos para crianças. Inevitavelmente, as necessidades das comunidades pobres são subvertidas pelas demandas dos visitantes ricos.
Mais uma vez, tentativas desajeitadas de fazer o bem acabam prejudicando as comunidades que queremos ajudar. O desejo de se envolver com o mundo é louvável, assim como o desejo de ser voluntário. Mas precisamos andar com mais cuidado. A menos que tenhamos tempo e habilidades transferíveis, podemos fazer melhor em viajar, comercializar e gastar dinheiro em países em desenvolvimento.
Recentemente o canal do Youtube Vice compartilhou uma entrevista (abaixo) com uma jovem ex-voluntária, que não quis revelar sua identidade. De acordo com seu relato, o orfanato que ela achava que estava construindo era na verdade desmontado e refeito ao longo da noite.
Não só isso, as crianças eram maculadas para parecerem mais sujas para torná-las mais pobres como forma de aumentar a experiência dos voluntários. O vídeo é um vislumbre deste mundo falso, onde as pessoas pagam pela experiência de caridade sem realmente ajudar os locais.
O rápido crescimento do "volunturismo" é como o rápido crescimento da indústria de ajuda: salvar nossas próprias consciências sem examinar completamente as consequências para as pessoas que procuramos ajudar. Com demasiada frequência, nossos esforços sinceros para ajudar só pioram as coisas.
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