Por que os polvos morrem após por seus ovos?

A maioria dos polvos tem vida curta, vivendo apenas de 1 a 4 anos. Depois que uma fêmea de polvo põe seus ovos, ela dedica a última parte de sua vida para garantir que seus filhotes tenham uma chance. Esta devoção pode parecer diferente dependendo da espécie. Em alguns casos, um polvo encontra/constrói uma toca e fixa seus ovos nas paredes ou no teto da toca, depois passa muito tempo trançando-os em correntes que funcionam como decoração da toca. As octo-mães também podem depositar seus ovos sobre ou sob rochas ou corais e depois chocá-los, protegendo-os de predadores a todo custo.

A maioria das espécies de polvo são "seméparas", o que significa que se reproduzem uma vez e depois morrem. Durante meses -ou inclusive anos- que se seguem à postura dos ovos, o único propósito da octo-mãe é proteger os bebês à medida que se desenvolvem. Ela nem sequer deixa os ovos para caçar e, de fato, a parte do cérebro do polvo que governa a sua vontade de comer interrompe essa vontade. Como resultado, a octo-mãe morre lentamente de fome. Ela morre na mesma época em que seus bebês eclodem.

Para saber mais sobre como o cérebro de uma fêmea de polvo funciona durante a fase de ninhada, em 1977, os cientistas testaram fêmeas removendo a glândula óptica de um polvo -que é a responsável por desligar a vontade de comer de uma mãe-. Aparentemente, sem a glândula óptica, ela desistiu dos ovos, voltou a comer e continuou a viver por um bom tempo. A glândula óptica é como um sistema de autodestruição que parece controlar a reprodução e a expectativa de vida em resposta a fatores ambientais como luz, temperatura e nutrição.

O processo de deterioração física e mudanças comportamentais que começa depois que uma fêmea de polvo põe seus ovos e que acaba levando à sua morte é chamado de senescência. Esse processo é controlado pela glândula óptica por meio de um coquetel de múltiplos hormônios e ocorre também em octo-pais, embora os óvulos não recebam cuidados paternos! A senescência é um período de final de vida em que as características funcionais dos organismos vivos se deterioram gradualmente. A senescência representa a última parte do ciclo de vida de um animal antes de morrer.

Ainda é um pouco misterioso, mas pesquisas contínuas estão lançando mais luz sobre a senescência. Juntamente com o comportamento aparentemente antinatural do jejum de meses ou anos após a postura dos ovos, as octo-mães às vezes também exibem um comportamento perturbador de automutilação durante esta fase de suas vidas. Os cientistas também associam esse comportamento à glândula óptica e aos hormônios que ela secreta durante a senescência.

Quando uma toca é escolhida, a mãe polvo expulsará cada ovo, um por um e então usará suas ventosas para trançar fios deles em fortes correntes que ela prende ao telhado de sua toca. Todo o processo, que pode envolver o nascimento e a trança de cerca de 50.000 ovos no total, levará talvez até um mês.

Enquanto cuida ferozmente de seus ovos, ela continuamente sopra correntes de água oxigenada, para arejá-los. Durante esse período, seu corpo sofre suicídio celular, senescência, atingindo tecidos e órgãos, resultando em movimentos descoordenados, falta de apetite, lesões brancas que não cicatrizam no corpo e, por fim, a morte.

E os polvos machos, podem seguir fazendo novos "polvinhos"? O destino dos machos é ainda mais ingrato que o das fêmeas. após o acasalamento, os machos parecem perder a vontade de viver perdendo o controle sobre seus próprios corpos; deixam de comer e parecem esquecer como nadar corretamente. Frequentemente perdem o equilíbrio e tropeçam nos próprios braços. Eles podem até mastigar os próprios braços e arrancar pedaços de tecido atraindo predadores, tornando-se assim parte da cadeia alimentar.

A maioria dos filhotes de polvo nascem sem a orientação dos pais e imediatamente se tornam caçadores após eclodirem, descobrindo o grande oceano através da observação! Quando você vir um polvo de tamanho decente, saiba que menos de 2% dos cerca de 50.000 ovos atingem a maturidade total

A maioria, mas não todas as fêmeas dos polvos, seguem o padrão de postura de ovos, senescência e morte que mais ou menos coincide com a eclosão dos ovos. No entanto, os polvos-listrados-menores e maiores do Pacífico são duas espécies que quebram o molde da semelparidade ao colocar múltiplas ninhadas de ovos durante suas vidas.

Sempre há aqueles esquisitos da família que fazem as coisas de maneira diferente, mas na maioria das vezes, os polvos morrem depois de dar à luz. A semelparidade em polvos é provavelmente um mecanismo evolutivo que impulsiona a morte pós-reprodutiva.

Muitos polvos são canibais. Filhotes da mesma ninhada geralmente comem uns aos outros e sabe-se que as fêmeas também matam e comem os machos após o acasalamento. Há todas as possibilidades de que uma fêmea de polvo coma seus próprios filhotes se tiver oportunidade. A morte após a reprodução é uma boa forma de garantir que a fêmea não consuma os seus próprios filhotes! Da nossa perspectiva como humanos, isso parece um pouco triste. Mas do ponto de vista dos polvos, não é nada triste, c'est la vie!

Há uma corrente de pesquisadores que acreditam que os polvos são extraterrestres e que habitam a terra bem antes do ser humano. Por ilação poderíamos então inferir que se os polvos tivessem um ciclo de vida diferente, poderiam governar o mundo! A principal razão pela qual eles não estão (governando o mundo) resume-se ao fato de que eles têm vida curta e não permanecem por aqui tempo suficiente para ensinar seus filhotes após a eclosão. Eles se reproduzem e morrem. Isto significa que cada geração deve aprender a sobreviver sozinha, sem ter o benefício da sabedoria e orientação dos pais.

Os cefalópodes surgiram pela primeira vez durante o Cambriano, um período de grande diversidade de animais marinhos há mais de 500 milhões de anos. Os humanos existem há alguns milhões de anos e os humanos modernos há apenas 300 a 400.000 anos. Os polvos podem ter muito poder cerebral, mas não têm como transmitir a sua sabedoria às gerações mais jovens.

Se os polvos pudessem transmitir as suas experiências de vida através da aprendizagem intergeracional, este mundo poderia ser um lugar muito diferente... com mestres polvos!