As companhias marítimas continuam a escolher os estaleiros com piores práticas ambientais para desmantelar os navios, com Bangladesh na liderança destacada. Os dados mais recentes da ONG ecologista Plataformas de Desmantelamento revelam que das 446 embarcações comerciais oceânicas que foram vendidas para sucata em 2023, 325 grandes petroleiros, graneleiros, plataformas offshore, navios de carga e de passageiros terminaram encalhados nas praias de Bangladesh, Índia e Paquistão, representando mais de 85% da tonelagem bruta desmantelada a nível mundial. |
- "Bangladesh continua a ser o depósito de lixo náutico preferido em fim de vida, carregados de toxinas. Há um amplo conhecimento dos danos irreparáveis causados por práticas sujas e perigosas nos lodaçais das marés, mas o lucro é o único fator decisivo para a maioria dos armadores ao vender os seus navios para desmanche", comenta, no documento, Ingvild Jenssen, fundador e diretor da fundação.
De acordo com esta ONG, a Suíça, Coreia do Sul, Emirados Árabes Unidos, Taiwan, Dinamarca, Noruega e Tailândia estão no topo da lista de países que em 2023 enviaram mais embarcações para aqueles destinos. Por companhias, a ONG destaca a Companhia de Navegação Mediterrânea, de Taiwan, como a que mais embarcações enviou para desmantelamento poluente e perigoso em Bangladesh. A lista de companhias que mandaram navios para as praias do Sul da Ásia inclui nomes como a Sinokor, Evergreen, Maersk, Green Reefers e Harinsuit.
Uma vez atolado o navio no lodo, os seus líquidos são extraídos por bombeamento, incluindo gasóleo, óleo de motor e substâncias químicas de combate a incêndios, posteriormente revendidos. São então desmanteladas a maquinaria e outros equipamentos acessórios. Tudo é retirado e vendido a negociantes de sucata.
Depois do navio ser reduzido a cascos de aço, enxames de trabalhadores oriundos das regiões mais pobres de Bangladesh empunham maçaricos de acetileno e desmantelam a carcaça em pedaços. Estas peças são transportadas até à praia por equipes de carregadores e são depois fundidas e laminadas em chapa para uso na construção.
- "Parece um bom negócio até ponderarmos o veneno que dali escorre, infiltrando-se no nosso solo"”, afirma o ativista Muhammed Ali Shahin, da Plataforma para a Demolição Naval, uma organização não governamental. - "Até travarmos conhecimento com as viúvas de jovens que morreram esmagados por pedaços de aço ou sufocados no interior de um navio."
Muhammed, de 39 anos, trabalha há mais de 11 anos para sensibilizar a opinião pública para a causa dos homens que trabalham nestes estaleiros. No ano passado, pelo menos 15 trabalhadores perderam a vida durante o desmantelamento de navios. Nas praias do Sul da Ásia, trabalhadores migrantes não qualificados, incluindo crianças, são destacados aos milhares para desmontar os navios manualmente. Sem equipamento de proteção, com bonés de beisebol e chinelos, ou botas, se tiverem sorte, os jovens cortam fios, canos e exploram cascos de navios com maçaricos. O aço dos cascos dos navios é retirado em chapas. Cada uma pesa pelo menos 500 quilogramas.
Homens desesperados e sem perspectivas de emprego fazem um dos trabalhos mais perigosos do mundo. Explosões de gás, queda de peças maciças de aço e quedas de altura causam a morte de numerosos trabalhadores todos os anos.
Pelo menos outros 34 trabalhadores ficaram gravemente feridos. Embora o número total de mortos em estaleiros indianos seja desconhecido, fontes e meios de comunicação locais confirmaram, segundo a ONG, pelo menos duas mortes em estaleiros que alegam operar com segurança, mas não foram incluídas na lista da de instalações de reciclagem de navios aprovadas. O acumulado dede 2009 é de 443 mortes, fazendo desses é um dos trabalhos mais perigosos do mundo, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho.
Os ativistas sublinham que não ignoram a necessidade do seu país pelos postos de trabalho criados pela indústria da demolição naval, asseverando que não defendem que o desmantelamento de navios deva parar totalmente. Mas precisa ser feita de forma mais limpa e segura, dispensando melhor tratamento aos trabalhadores.
As reformas desta indústria são introduzidas com conta-gotas. A Índia exige agora mais proteções para os trabalhadores e o ambiente. Mas em Bangladesh, a indústria ainda é poluente e perigosa, mas também altamente lucrativa. Ativistas em Chittagong dizem que durante três a quatro meses por ano cada navio demolido nos estaleiros de Bangladesh rende em média um lucro de mais de 5 milhões de reais.
As críticas dos ativistas não têm como destinatários exclusivos os demolidores de navios de Bangladesh e Muhammed Ali Shahin tem uma questão que deixará mais de um envergonhado.
- "No Ocidente, vocês não deixam poluir seus países, nem autorizam desmantelamentos na praia. Porque aceitam que os trabalhadores pobres ponham a vida em risco para desmantelar aqui os navios que vocês já não querem?"”
O MDig precisa de sua ajuda.
Por favor, apóie o MDig com o valor que você puder e isso leva apenas um minuto. Obrigado!
Meios de fazer a sua contribuição:
- Faça um doação pelo Paypal clicando no seguinte link: Apoiar o MDig.
- Seja nosso patrão no Patreon clicando no seguinte link: Patreon do MDig.
- Pix MDig ID: c048e5ac-0172-45ed-b26a-910f9f4b1d0a
- Depósito direto em conta corrente do Banco do Brasil: Agência: 3543-2 / Conta corrente: 17364-9
- Depósito direto em conta corrente da Caixa Econômica: Agência: 1637 / Conta corrente: 000835148057-4 / Operação: 1288
Faça o seu comentário
Comentários