- "Do ponto de vista da biologia evolutiva, é totalmente fascinante", disse Joshua Schiffman, oncologista pediátrico da Universidade de Utah, nos Estados Unidos há alguns anos. Mas ele não estava se referindo a nenhum tipo de criança, estava falando de elefantes. Da incrível capacidade dos elefantes de não contrair câncer. Contra todas as probabilidades e se você pensar bem, na medida em que o câncer tem muito a ver com erros genéticos derivados da renovação celular, animais com mais células deveriam apresentar mais casos de câncer, mesmo que apenas por estatísticas puras. |
Mas isto, que é verdade na maioria dos casos, não é verdade para os elefantes e para a maioria dos grandes animais, o que levou o estatístico e epidemiologista inglês Richard Peto a formular um paradoxo que recebeu seu nome em 1977.
O paradoxo de Peto diz que, ao nível da espécie, a incidência de câncer não parece estar correlacionada com o número de células em organismo. Por exemplo, a incidência de câncer em humanos é muito maior do que a incidência de câncer em baleias, apesar das baleias terem mais células que os humanos. Se a probabilidade de carcinogênese fosse constante entre as células, seria de esperar que as baleias tivessem uma incidência de câncer mais elevada do que os humanos.
O que podemos aprender com os elefantes. Embora a mortalidade por câncer em humanos possa chegar a 25%, em elefantes não chega a 5%. E, por isso, durante anos, os cientistas examinaram os hábitos, a fisiologia e os genomas destes gigantes para tentar encontrar a chave que nos permitirá melhorar a nossa forma de combater um dos mais importantes problemas de saúde pública do próximo século. Com algum sucesso, para falar a verdade.
No entanto, há um par de anos, encontramos uma explicação genética satisfatória para a resistência dos elefantes ao câncer. Segundo pesquisadores do Instituto de Biotecnologia e Biomedicina da Universidade Autônoma de Barcelona parece que a chave está nas interações moleculares da proteína p53.
A replicação celular que ocorre no corpo, e que lhe permite permanecer funcional década após década, tem o lado negativo de que os erros genéticos se acumulam e, em última análise, aumenta o risco de sofrer de câncer. O que defende o elefante desses erros? Segundo a equipe do Instituto, a chave estaria nas 20 cópias do gene p53 que os paquidermes possuem, ao contrário da única cópia dos humanos.
Não é à toa que o gene p53 é chamado de "guardião do genoma". A proteína p53 é ativada quando o DNA é danificado e interrompe a replicação do material genético para reparar cópias "corrompidas". Em cópias saudáveis, a proteína MDM2 desativa a proteína p53. Como podemos ver, a interação de ambas as proteínas é essencial para que tudo funcione.
Mas não 20 cópias exatamente iguais, é claro. É verdade que os elefantes possuem 20 cópias desse gene, mas cada uma é estruturalmente diferente e isso amplia exponencialmente a capacidade regenerativa do animal. A novidade é que, usando análises bioquímicas e simulações computacionais, os pesquisadores descobriram diferenças importantes entre elefantes e humanos.
Ainda há muito trabalho a fazer, mas compreender melhor como estas moléculas são ativadas e quando isso pode levar a uma maior sensibilidade e resposta contra condições cancerígenas é uma excelente notícia para o desenvolvimento de terapias medicamentosas direcionadas em humanos. Cruzemos os dedos.
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