No começo de maio, centenas de montanhistas de todo o mundo viajam para o Himalaia na esperança de chegar ao cume do Monte Everest, a montanha mais alta do mundo. Ao fazerem a lenta, árdua e por vezes fatal viagem até ao cume, deixam para trás lixo, equipamentos e dejetos humanos. As autoridades implementaram recentemente novas regras para ajudar a conter o problema do lixo no Everest. Uma das medidas é que os everestistas montanhista deverão transportar suas fezes de volta ao acampamento base em sacos de transporte. Mas, enquanto isso, o pico permanece repleto de destroços. |
Esta semana, as tropas nepalesas estão fazendo sua limpeza anual na montanha. No domingo, 12 militares nepaleses estavam programados para chegar ao acampamento base do Everest para a Campanha de Limpeza de Montanhas deste ano.
Eles serão apoiados por 18 sherpas enquanto removem cerca de dez toneladas métricas de lixo e detritos do Monte Everest, bem como dos picos próximos do Monte Lhotse e do Monte Nuptse.
Eles também tentarão trazer os corpos de cinco alpinistas que morreram enquanto subiam ou desciam o Everest, cuja localização é conhecida. O ano passado foi uma das temporadas mais mortíferas já registradas: doze montanhistas morreram, enquanto outros cinco desaparecidos são considerados mortos.
Mais de 330 montanhistas morreram tentando escalar os 8.848,86 metros do Everest desde que a exploração começou no início do século XX. Alguns são apanhados em avalanches ou caem em fendas, enquanto outros sofrem de condições médicas fatais, como queimaduras pelo frio ou edema cerebral em grandes altitudes, uma condição que causa inchaço cerebral.
Especialistas dizem que as alterações climáticas causadas pelo homem foram, pelo menos parcialmente, responsáveis pelo elevado número de mortes do ano passado.
- "A principal causa é a mudança do clima", disse Yuba Raj Khatiwada, diretora do departamento de turismo do Nepal. - "Nesta temporada as condições climáticas não foram favoráveis; foi muito variável. As alterações climáticas estão tendo um grande impacto nas montanhas."
No ano passado, o governo do Nepal emitiu mais de 550 licenças para montanhistas que queriam escalar o pico. Cada licença custa milhares de dólares, além das grandes somas que os montanhistas costumam pagar para empresas de turismo local que contratam os sherpas.
Alguns críticos argumentaram que o governo está emitindo muitas licenças. Eles também criticaram empresas de orientação de baixo custo por aceitarem clientes inexperientes, reembolsarem mal os sherpas e se concentrarem muito pouco na segurança dos escaladores.
- "Pessoas com pouca ou nenhuma experiência que reservam expedições com poucos recursos estão se expondo a enormes riscos", disse Caroline Pemberton, coproprietária da Climbing the Seven Summits, uma empresa que cobra uma "montanha" de dinheiro para organizar expedições.
A temporada do Everest deste ano começará em breve. A janela para isso é um tanto restrita e oscila entre as 3 primeiras semanas de maio todos os anos. O motivo para isso é a monção de inverno que nessa época faz com que as fortes correntes de vento -que normalmente sopram no pico o ano todo- sejam impulsionadas para o norte. A ausência dessa ventania permite que o cume seja alcançado com relativa segurança.
O Monte Everest se projeta na estratosfera, e na maior parte do ano o cume é fustigado por ventos de mais de 160 quilômetros por hora que podem matar um alpinista em minutos ou até mesmo jogá-lo no vazio. Por isso, é somente durante o início ou [cessação] das monções asiáticas que esses ventos diminuem e permitem aos everestistas janelas curtas para escalar a montanha.
Nos últimos anos, as autoridades anunciaram novos regulamentos destinados a melhorar a segurança e reduzir o lixo no Everest. Todos os montanhistas são obrigados a alugar (por 5 mil reais) e usar um dispositivo eletrônico de rastreamento, coletar e transportar seus próprios resíduos de volta ao acampamento base e pagar um caro depósito de lixo em torno de 21 mil reais. Eles só recebem o depósito de volta se retornarem com pelo menos 8 quilos de lixo.
A estimativa é que o Everest acumule hoje cerca de 50 toneladas de resíduos, e cada alpinista gera em média 8 quilos a mais (daí o depósito). O governo nepalês gasta em torno de 40 milhões de reais anualmente na campanha de limpeza das montanhas, recuperando dezenas de toneladas de lixo, mas ainda não é suficiente para lidar com o problema aparentemente intransponível. Uma organização sem fins lucrativos, Sagarmatha Next, está aumentando a conscientização sobre o assunto fazendo arte a partir do lixo.
A organização se esforça para promover o turismo sustentável na região de Khumbu, no Nepal, onde fica o Monte Everest. O objetivo da Sagarmatha é mudar a percepção sobre os resíduos e apoiar a comunidade local, levando soluções inovadoras e sustentáveis para a gestão de resíduos sólidos.
A Sagarmatha Next é o primeiro projeto do Museu e Parque de Sustentabilidade do Himalaia, situado em Syangboche, perto de Namche Bazar, a caminho do acampamento base do Everest. Sendo o lar da montanha mais alta do mundo, a região de Khumbu recebe um fluxo cada vez maior de visitantes de todo o mundo. Embora isto tenha levado desenvolvimento socioeconômico à região, também colocou muita pressão sobre a biodiversidade e o delicado ecossistema da região durante as últimas décadas.
Só em 2023, o Vale do Khumbu recebeu mais de 75.000 turistas que, juntamente com os guias locais e a equipe de sherpas e escaladores, resultaram na geração de cerca de 820 kg de resíduos por dia durante as temporadas de escalada e trekking.
Embora tenham sido envidados esforços contínuos para recolher e gerir os resíduos, o desafio ainda é o que fazer com o lixo recolhidos. Atualmente, a maior parte é deixada para trás em numerosos poços que são escavados em todo o Vale do Khumbu e no Parque Nacional Sagarmatha, onde a maior parte dos resíduos é simplesmente queimada. A falta de infraestrutura nas regiões altas e a dificuldade de transportá-los para fora do vale obrigaram todos a pensar em formas criativas de gerir os resíduos.
A verdade é que a montanha mais alta do mundo também está se tornando rapidamente o depósito de lixo mais alto do mundo, de acordo com um vídeo viral que mostra pilhas de lixo espalhadas no acampamento base no Monte Everest. Compartilhado por Supriya Sahu, secretária-chefe adicional da Índia no Departamento de Meio Ambiente, Mudanças Climáticas e Florestas do governo de Tamil Nadu, ela lamenta a cena absurda proporcionada pelo ser humano em um dos locais mais lindos do mundo.
- "Quando os seres humanos não poupam nem mesmo o Monte Everest de despejar seu lixo e poluição plástica. É realmente comovente", escreveu Suprya.
Denzi, o sherpa que gravou o vídeo que mostra a verdadeira lixeira no acampamento, acha que o governo deveria estabelecer regras rígidas para aqueles que deixam lixo no Monte Everest, e um projeto de campanha de limpeza mais eficaz deveria ser realizado.
- "É o acampamento mais sujo que já vi na minha vida", disse Denzi em um post no Instagram. - "Podemos ver muitas tendas, garrafas de oxigênio vazias, tigelas de aço, colheres, absorventes higiênicos... que várias empresas deixam para trás com os seus logótipos e tendas cortadas."
E a realidade mais mordaz e triste desta situação é que estas empresas de orientação e organizadoras de expedição nem são nepalesas e que, talvez por isso, não se preocupem em limpar o quintal alheio.
- "Fico sempre muito triste quando vejo isso", escreveu Denzi, que já presenciou cenas de lixo muitas vezes no seu trabalho com grupos de expedição. - "Gostaria de pedir ao governo que punisse as empresas que deixam o seu lixo na montanha e que os everestistas que deixam o lixo para trás fossem proibidos para o resto da vida de escalar não apenas o Everest, mas todas as outras montanhas do mundo."
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