![]() | Balofo, pálido e gelatinoso, o peixe-bolha (blob) dificilmente seria convidado para uma concurso de beleza. Mas esse morador das profundezas do mar, que foi apelidado de animal mais feio do mundo, conseguiu conquistar os corações e mentes de muitos neozelandeses. Esta semana, o peixe-bolha foi coroado o Peixe do Ano do País, em um concurso que começou em 2021, organizado pelo Fundo de Conservação das Montanhas do Mar. |

O grupo milita pela defesa ambiental que visa aumentar a conscientização sobre a importância de proteger os ecossistemas de águas profundas.
O peixe-bolha conquistou a vitória por pouco, superando o segundo colocado, Hoplostethus atlanticus conhecido pelo nome comum de peixe-relógio por apenas 277 votos. Nos últimos dias da competição, o peixe flácido ganhou um empurrãozinho extra quando dois apresentadores de rádio da Nova Zelândia começaram a encorajar os ouvintes a se juntarem ao time do blob.
- “Nós e o povo da Nova Zelândia já estávamos fartos de outros peixes ganhando todas as manchetes", disseram Sarah Gandy e Paul Flynn em uma declaração. - “O peixe-bolha foi intimidado a vida toda, e nós pensamos: 'Chega, é hora do peixe-bolha ter seu momento ao sol.'”
Os peixes-bolha passam a vida espreitando nas profundezas escuras e geladas do oceano, até cerca de 1.200 metros abaixo da superfície. Dezenas de espécies de peixes-bolha vivem nos oceanos Atlântico, Índico e Pacífico, e todas fazem parte da família Psychrolutidae.
Fora da água, os peixes-gota parecem montes agitados de carne desestruturada. Mas quando estão nadando em seus habitats de águas profundas, eles parecem peixes bastante comuns, bonitos até, com cabeças largas que se afinam em direção a caudas finas.
Por que uma mudança tão drástica na aparência? Tudo se resume à pressão. Como vive no oceano profundo, o peixe-bolha evoluiu para suportar a pressão intensa da água: mais de 100 vezes a pressão do ar em terra. A alta pressão do oceano profundo é o que dá ao peixe-bolha sua forma.
Quando os peixes são levados à superfície, no entanto, a relativa falta de pressão faz com que seus corpos entrem em colapso em poças disformes de gosma.
Um espécime de peixe-bolha foi carinhosamente apelidado de “Sr. Blobby”, e a espécie ganhou renome mundial. Ainda assim, o peixe-bolha continua sendo uma criatura um tanto misteriosa, já que vive em lugares tão remotos e difíceis de alcançar. Por exemplo, os cientistas não sabem muito sobre seus ovos, larvas ou expectativa de vida. Os pesquisadores nem têm certeza de como eles acasalam.
O status de conservação do peixe-bolha também não é claro, porque os cientistas têm dificuldade em rastrear suas tendências populacionais. Mas um estudo de 2022 descobriu que peixes feios tendem a ser os mais distintos evolutivamente, e têm mais probabilidade de serem ameaçados, em comparação com espécies que os humanos acham atraentes.
Essa tendência sugere que os humanos ignoram os peixes que mais precisam de apoio à conservação em favor de espécies mais bonitas, um fenômeno que os pesquisadores chamam de "dívida relacionada à estética". Essa dívida também não é exclusiva dos peixes. Estudos também encontraram uma conexão entre o apelo público e o apoio à conservação de mamíferos.
O segundo colocado no prêmio de Peixe do Ano da Nova Zelândia, o peixe-relógio, é um habitante das profundezas do mar, vivendo quase 900 metros abaixo das ondas. Essas criaturas levam muito tempo para amadurecer e se reproduzem lentamente.
O crescimento é muito lento, sendo um dos peixes mais longevos conhecidos, com um espécime capturado com uma idade de 149 anos. Sabe-se pouco sobre as suas larvas e juvenis, que habitam provavelmente em águas abissais.

O problema do peixe-relógio é que sua carne é considerada uma iguaria, que um japonês se mataria por ela. A carne branca e macia dessa espécie é
excelente, mas esconde um segredo: deve ser apreciada com moderação, pois assim como a anchova-negra (Ruvettus pretiosus) e escolar (Lepidocybium flavobrunneum) ele pode causar diarreia que deixa o furico destroçado.
Para piorar ele tem a mania idiota de formar grandes cardumes e nadar perto da superfície. Foi assim que pescadores na Austrália e Nova Zelândia começaram a pescar grandes grupos deles com rede de arrastão a partir da década de 1980. Sua população despencou. Restrições de pesca estão em vigor agora, mas o peixe-relógio ainda está lutando para se recuperar.
Na verdade, nove dos dez principais indicados para Peixe do Ano são considerados vulneráveis pelos conservacionistas. Os seguintes colocados incluem vários tubarões, a enguia-de-barbatana-longa e o cavalo-marinho-barrigudo.
No final, a disputa entre o peixe-bolha e o peixe-relógio foi uma batalha dos miosótis do fundo do mar. Uma batalha de duas criaturas peculiares das profundezas, com o peixe-bolha espreitando o guloso com uma diarreia líquida e a beleza não convencional do peixe-bolha ajudando a fazer os eleitores por fim renderem homenagem ao peixe mais vilipendiado da internet.
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