![]() | Nas últimas duas décadas, as águas-vivas começaram a sobrecarregar nossos oceanos. Na Nova Zelândia, mergulhadores lutaram contra milhões de águas-vivas, nenhuma maior que um grão de pimenta. Na Suécia, um enorme aglomerado de medusas-da-lua desligou um dos maiores reatores nucleares do mundo, entupindo os canos essenciais da usina. E, no mar do Japão, milhares de águas-vivas de Nomura de 200 kg, com umbrelas de dois metros de diâmetro, assolam os pescadores, rasgando redes e devorando peixes locais. |

Em todo o mundo, esses animais consomem ovas e larvas de peixe vorazmente, prejudicam rotineiramente os esforços de cultivo marinho e superam os peixes adultos ao consumir os recursos de que precisam para viver.
As florações de medusas impactam significativamente a composição e a estrutura da comunidade ecológica, reduzindo as presas disponíveis para predadores superiores. As florações também alteram significativamente o ciclo do carbono, nitrogênio e fósforo, mudando a disponibilidade para as comunidades microbianas.
As florações recentes geralmente se sobrepõem a várias indústrias, reduzindo a captura pesqueira, obstruindo redes de pesca e canos de usinas de energia, e sobrecarregando destinos de praia populares, levando ao fechamento.
Mudanças nas condições oceânicas, incluindo eutrofização, hipóxia, aumento da temperatura oceânica, e desenvolvimento costeiro, entre outros são considerados as principais causas do aumento das florações de águas-vivas.
Se as coisas continuarem na trajetória atual, podemos estar caminhando para um futuro em que todo o oceano estará cheio de águas-vivas. Pouco se sabe sobre como as condições ambientais futuras afetarão as florações de águas-vivas, embora este seja um campo crescente de pesquisa.
Então, há algo que possa manter essas criaturas gelatinosas sob controle? Além da humilde tartaruga marinha, há muitos animais marinhos que se alimentam de águas-vivas, mas as tartarugas estão entre os seus predadores mais antigos.
E embora todas as espécies conhecidas de tartarugas marinhas se alimentem de águas-vivas em algum momento de suas vidas, nenhuma consome tantas quanto a tartaruga-de-couro. As tartarugas-de-couro são a maior espécie de tartarugas marinhas e se alimentam quase que exclusivamente de águas-vivas, devorando bem mais de mil toneladas métricas delas ao longo de sua vida útil de aproximadamente 50 anos.
Isso é particularmente notável porque as águas-vivas são 95% água e têm muito poucas calorias, então para manter um peso saudável a tartaruga-de-couro média de 500 kg precisa comer aproximadamente 400 kg de águas-vivas todos os dias. Isso é aproximadamente o mesmo peso de um piano de cauda. Embora algumas espécies de tartarugas marinhas tenham sido documentadas comendo apenas as gônadas ricas em proteína de suas presas, as tartarugas-de-couro comem a água-viva inteira, ceifando enormes extensões de águas-vivas desavisadas.
As águas-vivas normalmente não são tão indefesas assim. A maioria das espécies têm tentáculos cobertos de células chamadas cnidócitos, que contêm arpões venenosos enrolados e prontos para serem lançados. Estas estruturas farpadas, conhecidas como nematocistos, são lançadas ao contato. A água-viva frequentemente usa essa picada para paralisar e matar sua comida, e também pode irritar a pele de possíveis intrusos.
Mas isso é completamente inútil contra as tartarugas marinhas. A maioria desses répteis possuem escamas grossas cobertas de queratina, o mesmo material que compõe unhas e garras. Essa armadura de couro protege sua pele enquanto elas caçam, e qualquer presa capturada que tentar escapar é empalada nas lanças queratinizadas que revestem o esôfago da tartaruga-de-couro.
Para a maioria das tartarugas marinhas, essas adaptações tornam presa fácil as águas-vivas individualmente. Porém, o verdadeiro mecanismo de defesa de uma população de águas-vivas está na rapidez com que elas conseguem se reproduzir. Quase todas as espécies de água-viva evoluíram para se reproduzir tanto sexualmente como assexuadamente, permitindo-lhes aumentar seu número com ou sem parceiros.
Em ambientes tropicais, as águas-vivas se reproduzem constantemente ao longo do ano. Mas, em climas mais temperados, as espécies muitas vezes se reproduzem de uma só vez em uma floração massiva, quando as águas-vivas se multiplicam em taxas alarmantes. E a humanidade está tornando essas florações muito mais frequentes.
O escoamento de fertilizantes dos campos de cultivo introduz produtos químicos que simultaneamente matam outros peixes e provocam florações. Altas temperaturas da água causadas pelas mudanças climáticas aceleram a reprodução das águas-vivas e prolongam a época reprodutiva. Enquanto isso, tanto a evolução quanto a poluição marinha aumentam dramaticamente a área de superfície para pólipos de águas-vivas se fixarem, crescerem e amadurecerem.
Todos esses problemas exigem uma ampla gama de soluções políticas. Mas a principal forma de prevenir que as populações de água-viva saiam do controle é proteger seus predadores naturais, dos quais muitos estão atualmente sob ameaça. A pesca em pequena escala, essencial para comunidades no México e no Peru, frequentemente usa redes de emalhar, que capturam e matam sem querer centenas de tartarugas marinhas todos os anos.
No Pacífico oriental, estas práticas podem levar as tartarugas-de-couro à extinção nos próximos 60 anos. Felizmente, alguns pesquisadores já desenvolveram ferramentas baratas para minimizar esses riscos. Colocar luzes de LED verde nas redes se provou útil para possibilitar que tartarugas marinhas, golfinhos e até aves marinhas evitem as redes de pesca.
Soluções como esta devem permitir que pescadores de pequena escala sustentem suas comunidades enquanto minimizam seu impacto nas nossas defensoras coriáceas dos oceanos.
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