O nome dela em inglês é bem fofo: gympie-gympie, parece adorável, mas se você prestar atenção ao seu nome científico Dendrocnide moroides, sabe que deve ser evitada. "Ddendrocnida" deriva da contração do grego antiga "déndron, que significa "árvore", e "knídē", que significa "agulha pungente". Na verdade, acredita-se que esta urtiga, com suas folhas macias e felpudas em forma de coração, seja a planta mais venenosa da Austrália. Tinha que ser, a urtiga brasileira dá coceira, por algumas horas, a urtiga australiana faz com que a vítima sofra por semanas. |
A aparência difusa da planta é devido a ela ser coberta por milhares de pequenos ferrões parecidos com pelos que se fixam na pele e soltam uma espécie de toxina que vai diretamente à corrente sanguínea, atingindo todos os órgãos. Um peptídeo chamado moroidina é o responsável pela dor alucinante. Não é à toa que seus outros nomes populares sejam "planta-ferrão", "picada-de-mato" e "ferrão-do-mato", entre outros. Certamente quem chamou esta planta de gympie-gympie era um engraçadinho sarcástico.
Uma micrografia eletrônica dos pêlos da planta.
A botânica Marina Hurley, que estudou a planta por três anos nas florestas tropicais de Queensland, descreve seu ferrão como se estivesse sendo queimada com ácido quente e eletrocutada ao mesmo tempo. Ela foi "picada" várias vezes durante o curso de seu estudo, apesar de usar equipamentos de proteção como máscaras de partículas e luvas de soldagem. Ela chegou a precisar de hospitalização uma vez.
Semelhante as agulhas hipodérmicas, esses pelos da planta são pontiagudos e ocos e são projetados para quebrar perto da ponta para que possam injetar veneno nos tecidos da vítima. As agulhas são tão pequenas que são difíceis de remover da pele, mas a menos que seja feito, as agulhas continuam a liberar toxinas no corpo, causando dor excruciante sempre que as áreas afetadas são tocadas ou entram em contato com água ou temperatura alterada. Os pesquisadores relataram que mesmo as folhas secas podem ter seus pelos cheios de toxinas.
Ernie Rider, um oficial de conservação sênior do Serviço de Parques e Vida Selvagem de Queensland, que levou um tapa no rosto e torso com a folhagem em 1963, lembrou:
- "Por dois ou três dias a dor foi quase insuportável. Eu não conseguia trabalhar ou dormir, então foi uma dor muito forte por mais duas semanas ou mais. A ardência persistiu por dois anos e reaparecia toda vez que eu tomava um banho frio. Não há nada que se compare a ela; é dez vezes pior do que qualquer outra coisa."
Pior ainda, a planta constantemente troca suas agulhas como um gato trocando de pele. As agulhas permanecem suspensas no ar nas proximidades da planta, onde podem ser inaladas por uma vítima desavisada causando complicações respiratórias. Marina Hurley foi exposta a fios no ar por um longo período. Ela teve ataques de espirros, olhos e nariz lacrimejantes e, eventualmente, desenvolveu uma alergia que exigiu atenção médica.
- "A reação alérgica se desenvolveu com o tempo, causando coceira extrema e urticária enorme que acabou exigindo tratamento com esteróides. Nesse ponto, meu médico aconselhou que eu não deveria ter mais contato com a planta e eu não fiz objeções", contou a botânica.
W.V. MacFarlane, professor de fisiologia da John Curtin da Escola de Pesquisa Médica das Universidade Nacional Australiana, observou os efeitos da inalação dos tricomas (pelos).
- "A retirada dos pelos das folhas invariavelmente produz espirros no operador em 10 ou 15 minutos. Durante as primeiras tentativas de separar os pêlos das folhas secas, pó e, presumivelmente, alguns pêlos foram inalados. Inicialmente, eles produziram espirros, mas dentro de três horas houve dor nasofaríngea difusa e, após 26 horas, uma sensação de dor de garganta aguda como amigdalite foi experimentada", explicou MacFarlane.
Les Moore, um oficial científico da Divisão CSIRO de Vida Selvagem e Ecologia em Queensland, estava estudando casuares quando foi picado no rosto pelo ferrão-do-mato. Seu rosto inchou imediatamente:
- "Em minutos, a ardência e a queimação iniciais se intensificaram e a dor em meus olhos era como se alguém tivesse derramado ácido neles. Minha boca e língua incharam tanto que tive dificuldade para respirar. Foi debilitante e eu tive que tatear para sair do mato", contou o homem que acha que teve um choque anafilático, tanto que sua visão levou dias para se recuperar.
Marina Hurley, usando uma máscara facial de partículas e luvas de solda, trabalha com a planta-ferrão.
Contos do encontro da urtiga do capeta com humanos em geral deixam recordações doídas. O agrimensor A.C. Macmillan, que foi um dos primeiros a documentar os efeitos da árvore-ferrão, relatou a seu chefe em 1866 que seu cavalo de carga foi picado, ficou louco e morreu em duas horas.
O folclore local está repleto de contos semelhantes sobre cavalos pulando em agonia de penhascos e trabalhadores florestais se embriagando para aliviar a dor intratável. Há uma história apócrifa sobre um oficial da 2ª Guerra Mundial que, sem saber, usou as folhas da planta assassina como papel higiênico. A dor foi tão terrível que ele acabou atirando em si mesmo. Outra história envolve um ex-militar, que caiu em uma das plantas durante os exercícios de treinamento da Segunda Guerra Mundial, e acabou amarrado a uma cama de hospital por três semanas.
Surpreendentemente, apesar de ser uma planta tão tóxica, o gympie-gympie também é alimento para alguns animais (Austrália, lembra?). Marina Hurley descobriu durante seu estudo que as folhas da planta são comidas por um besouro crisomelídeo noturno e muitos outros insetos mastigadores de folhas e sugadores de seiva. Elas também são consumidas vorazmente pelos pademelões-de-pernas-vermelhas (Thylogale stigmatica), mostrado na foto acima, que podem comer todas as folhas de uma planta durante a noite.
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