China recomenda bílis de urso para tratar a covid-19 e provoca alarme entre os defensores de animais

As recomendações das autoridades sanitárias chinesas para tratar o covid-19 com injeções de bílis de urso causou muitas críticas dos ativistas de direitos dos animais. A Comissão Nacional de Saúde do país asiático emitiu no início de março instruções sobre a pandemia nas quais incluíam injeções de um composto chamado Tan Re Qing, entre outros produtos da medicina tradicional chinesa. Este preparado inclui bílis de urso, chifre de cabra e três tipos de ervas. Ainda que o efeito desta solução seja desconhecido no novo cocornavírus, o ácido ursodesoxicólico contido no Tan Re Qing é indicado para doenças hepáticas.

Segregada pelo fígado e acumulada na vesícula biliar, a bílis de várias espécies de urso, incluído o negro asiático e o pardo, é utilizada na medicina tradicional chinesa desde ao menos o século VIII. O conhecido também como ursodiol ajuda a dissolver cálculos biliares.

Por sua vez, ativistas asseguram que dar carta branca a tratamentos que usam produtos de animais é ao mesmo tempo trágico e paradoxal, dado que a origem do coronavírus SARS-CoV-2, que infectou mais de um milhão de pessoas e matou quase 60.000 em todo mundo, está vinculado ao comércio e consumo de animais selvagens.

- "Não devemos basear a solução contra o vírus letal em produtos de vida silvestre, como a bílis de urso, porque a vida silvestre parece ser a origem do próprio vírus", avaliou Brian Daly, porta-voz de Animals Ásia Foundation, com base na hipóteses de que o novo coronavírus originou-se em um morcego que poderia ter transmitido aos humanos através de uma espécie mamífera intermediária.

Ademais, a promoção da bílis de urso impulsionaria o tráfico de animais e afetaria não só ursos de cativeiro senão também os silvestres, potencialmente ameaçando espécies já em perigo de extinção na Ásia e outras partes do mundo.

Kirsty Warren, porta-voz da World Animal Protection, assinalou que 20.000 ursos são mantidos em jaulas em condições cruéis nas infames fazendas de bílis, para satisfazer a demanda do mercado da medicina tradicional.

Richard Tomas, da ONG de proteção de animais Traffic, indicou que a bílis de urso é comercializada ao longo da Ásia ainda que seja ilegal na maioria dos países. Com efeito, o ursodiol pode ser sintetizado em laboratório, motivo pelo qual não é necessário extrair dos animais.