48 pessoas foram à Antártica para provar que a Terra é plana e confirmaram o que pode ser feito com um simples bastão

- "A Antártica não é um continente unificado, mas uma gigantesca parede de gelo, como dizem em Game of Thrones, que envolve os continentes da Terra", disse alguns anos atrás Mark Sargent, youtuber e terraplanista, no início do documentário da Netflix, "Behind the Curve, sobre esse grupo “curioso” que acredita que o planeta é coberto por uma cúpula gigantesca, com o sol e a lua girando em círculos acima de nossas cabeças. Anos depois, um grupo de pessoas intrépidas decidiu ir direto ao cerne da questão para provar de uma vez por todas que a humanidade está errada. Não aconteceu como eles esperavam.

Um grupo de 24 terraplanistas e 24 defensores da Terra esférica empreendeu uma viagem à Antártica, liderada pelo pastor Will Duffy, com o objetivo de confirmar que a Terra era realmente plana. Apelidada de "A Experiência Final", a expedição concentrou-se em provar a existência do sol da meia-noite, um fenômeno conhecido por ser causado pela inclinação axial da Terra.

Segundo os terraplanistas, a presença desse fenômeno poria fim ao debate sobre a forma do planeta. Porém, ao chegarem à Antártica, encontraram o que hoje é amplamente aceito: o sol de 24 horas é real, reforçando a evidência de que a Terra é redonda.

Reações e contradições. Não há dúvida, era um balde de água fria. Jeran Campanella, um influenciador da Terra plana, admitiu em um vídeo pós-viagem que estava errado, afirmando inicialmente que o sol da meia-noite não existia.

O resultado novamente contradiz os argumentos centrais da teoria da Terra plana, que já enfrenta todo tipo de crítica por sua resistência à ciência e por sua interpretação extremamente literal de textos religiosos. A este respeito, a teoria foi promovida por figuras políticas conservadoras dos EUA, como Candace Owens e Tucker Carlson, que usaram a sua plataforma para apelar ao público religioso e cético em termos científicos .

Não havia necessidade de ir tão longe. A verdade é que descobrir se a Terra é esférica não exige uma viagem de milhares de quilômetros. Na realidade, tudo o que precisamos é de um pedaço de pau, e sabemos disso há mais de 2.220 anos, quando Erastóstenes, um matemático, astrônomo e geógrafo grego, realizou um dos experimentos mais fascinantes e simples da história, demonstrando a curvatura da Terra.

Enquanto diretor da Biblioteca de Alexandria, descobriu em um papiro que em Syena -atual Assuã- os raios solares incidiam perpendicularmente no dia 21 de junho ao meio-dia, de modo que uma vara vertical não projetava sombra, algo que também pôde ser observado no reflexo do sol em um poço. Isso lhe deu uma ideia.

Intrigado com o fenômeno, Erastóstenes decidiu fazer uma observação semelhante em Alexandria, localizada a cerca de 800 quilômetros ao norte de Siena. Ali, no mesmo dia e na mesma hora, ele notou que uma vara vertical projetava uma sombra definida. A discrepância levou-o a uma questão fundamental: como era possível que em um lugar não houvesse sombra e noutro houvesse, ao mesmo tempo?

Erastóstenes deduziu que a única explicação era que a superfície da Terra era curva. Ele calculou que o ângulo da sombra em Alexandria era de 7 graus e, usando esses dados juntamente com a distância conhecida entre as duas cidades, estimou a circunferência da Terra com uma precisão surpreendente para a sua época. Além disso, o experimento não apenas refutou a ideia de uma Terra plana, mas também lhe permitiu deduzir a inclinação do eixo da Terra e estabelecer conceitos-chave na geografia, como paralelos e meridianos.

Finalmente, muitos séculos depois, Carl Sagan reviveu esta experiência no seu icônico programa "Cosmos" , mostrando como uma simples vareta e uma observação cuidadosa foram suficientes para provar que a Terra é esférica. Com o seu estilo incomparável, Sagan ilustrou como esta descoberta mudou a nossa compreensão do mundo e, sem dúvida, diríamos que continua a ser uma refutação elegante e contundente de qualquer uma das teorias da Terra plana.

Aliás, além do famoso experimento, Erastóstenes deixou um legado notável: calculou a distância entre a Terra e o Sol, propôs o ano bissexto para corrigir desequilíbrios no calendário, e criou o primeiro mapa do mundo com paralelos e meridianos. O seu trabalho não só deixou um marco profundo na ciência antiga, mas também demonstrou o poder do pensamento crítico e da observação científica, pondo fim à especulação infundada há mais de dois milênios.