Para chegar ao mar pinguins precisam cruzar uma turba de leões-marinhos

Os pinguins-de-Humboldt são endêmicos da costa do Peru, mais são obrigados a migrar para o sul à medida que a produtividade marinha diminui, seguindo os estoques de anchova, à medida que leõs-marinhos-do-sul (Otaria flavescens) ocupam seu habitat fugindo do frio da América do Sul. Na costa do Peru há tantas aves marinhas pescando nas águas costeiras que as falésias estão cobertas de dejetos com mais de um metro de espessura. Por isso os pinguins-de-Humboldt nidificam em ilhas e costas rochosas, cavando buracos no guano e, às vezes, em cavernas pré-existentes.

Tanto o pinguim quanto a corrente de Humboldt receberam o nome de Alexander von Humboldt um polímata, geógrafo e naturalista alemão. Ele é conhecido no Peru como pajaro-niño, que se traduz em "bebê-pássaro", devido ao seu andar bamboleante e asas que não voam, sugerindo a imagem de um bebê cambaleando na praia.

Os pinguins-de-Humboldt são extremamente sensíveis à presença humana, sendo possivelmente a ave que mais se estressa com a presença humana, com pouco potencial de habituação. Passar a uma distância de 150 metros de um pinguim-de-Humboldt em incubação provoca uma resposta com aceleramento cardíaco, que é a maior distância de resposta relatada para pinguins até o momento, tornando-o a espécie de pinguim mais tímida até agora estudada.

Os pinguins de Humboldt precisam de até meia hora para recuperar os batimentos cardíacos normais após a abordagem humana, no entanto. Estresse cumulativo por visitas frequentes e retorno atrasado de parceiros forrageadores leva ao abandono do ninho, consequentemente causando diminuição do sucesso reprodutivo em locais frequentemente visitados.

Quando se aventuram mais para o sul, os pinguins-de-Humboldt se sobrepõem a população de pinguins-de-Magalhães. Daí começa a confusão já que são muito semelhantes e pertencem ao mesmo gênero de pinguins anilhados, os esfeniscos, assim como o pinguim-de-Galápagos. Não é incomum que quando voltem para o Peru venham decrescidos de vários pinguins confusos que decide ficar no Chile.

De fato, sabe-se que o pinguim-de-Humboldt vive em colônias de espécies mistas com o pinguim-de-Magalhães em pelo menos dois locais diferentes na costa sul do Chile.

Outro problema para esses pinguin que chega junto co a migração dos leõs-marinhos-do-sul e a tomada da costa. Para chegar ao mar, eles precisam se espremer por entre uma multidão turbulenta de leões-marinhos... o que se mostra bem complicado.

A presença dos pinipedes concomitante com época de reprodução leva os residentes a quererem se limpar do guano (cocô) que cobre seu corpo e pescar alguns peixes para eles e seus filhotes. Mas a praia em geral está lotada de leões marinhos. Ainda que estes prefiram se alimentar de peixes e lulas um lanchinho de pinguim poderia ser uma boa opção?

Como esses pinguins cobertos de guano chegarão à água? Sir David Attenborough explica no vídeo abaixo que - "...isso vai precisar de um pouco de crowd surfing". O que ele quer dizer na verdade é que o pinguim tem que pensar: "Segura na mão de Deus e vai!"

De fato, os ataques de leões-marinhos são bem infrequentes e a travessia costuma ser tranquila, ainda que caótica. A espécie é considerada vulnerável na Lista Vermelha da IUCN devido às flutuações extremas do tamanho da população, distribuição agrupada daqueles pinguins confusos que ficam no Chile e as principais ameaças à espécie não sendo melhoradas ao longo do tempo.