Daisuke Inoue foi homenageado com uma combinação de louros rara, quase certamente única. Em 1999, a revista Time o nomeou um dos "asiáticos mais influentes do século". Cinco anos depois, ele ganhou o Prêmio Ig Nobel, que homenageia desenvolvimentos particularmente estranhos e risíveis na ciência, tecnologia e cultura. Daisuke surgiu com o dispositivo que fez seu nome décadas antes, no início dos anos 1970, mas sua influência provou ser duradoura até hoje e sua apresentação é uma delícia. |
É a ele quem a história agora credita a invenção da máquina de karaokê, o dispositivo de canto assistido que o comitê do Ig Nobel, que concedeu seu Prêmio da Paz, descreveu como "uma maneira inteiramente nova das pessoas aprenderem a tolerar umas às outras, ademais desafinando".
A conquista de um recebedor do Ig Nobel, criado pela revista de humor científico Annals of Improbable Research (Anais da Pesquisa Improvável) deve ser aquela que "faz primeiro as pessoas rirem e depois pensarem". Ao longo de seu meio século de existência, muitos riram do karaokê, especialmente quando praticado ostensivamente por pessoas eu não tem nenhum dom musical. Mas, pensando melhor, poucas invenções japonesas foram tão importantes.
Daí a sua inclusão proeminente no recente livro do japonólogo Matt Alt "Pure Invention: How Japan's Pop Culture Conquered the World" ("Pura invenção: como a cultura pop do Japão conquistou o mundo"). Enquanto Alt conta sua história, a máquina de karaokê emergiu de Sannomiya, o distrito da luz vermelha de Kobe, que pode parecer um local de nascimento improvável, até que você considere seus cerca de quatro mil estabelecimentos de bebidas espremidos em um aglomerado de ruas e becos com apenas um quilômetro de raio.
Nesses bares, Daisuke trabalhava como hiki-katari, uma espécie de músico free-lance que se especializou em cantar junto, afinando suas apresentações em tempo real para corresponder às habilidades de canto e aos níveis de sobriedade de clientes pagantes.
Isso era o karaokê -o termo japonês significa, literalmente, "orquestra vazia"- antes do karaokê como o conhecemos. Daisuke dominou seus rigores a tal ponto que ficou conhecido como "Dr. Sing-along", e a simples demanda por seus serviços o inspiraram a criar uma espécie de substituto automático que pudesse enviar para shows extras.
O 8 Juke, como ele o chamava, equivalia a um estéreo automotivo de 8 trilhas conectado a um microfone, caixa de reverberação e slot para moedas. Pré-carregado com covers instrumentais de músicas favoritas dos frequentadores dos bares, os 8 Jukes de Daisuke logo começaram a receber mais moedas do que podiam suportar.
No início, Daisuke não quis vender essas máquinas, ele reservava-se em apenas alugá-las para interessados, em sua maioria hotéis, bares e restaurantes, de fato, que não estavam interessadas na música, senão em investir em algo que atraísse mais clientela e dinheiro para seus estabelecimentos.
Assim, no início, o karaokê segundo o ponto de vista comercial, não era a atração principal. Para as empresas, era simplesmente um truque para incentivar as pessoas a gastarem mais com bebidas nos bares e hotéis. Mas Daisuke não via sua invenção dessa forma.
- "Quando fiz o primeiro 8 Juke, um cunhado sugeriu que eu patenteasse", disse Daisuke em uma entrevista de 2013. - "Mas, na época, achei que isso ia dar em nada."
Como montou sua invenção a partir de componentes de prateleira de lojas de componentes eletrônicos, não achou que houvesse algo patenteável sobre ela e, sem saber, pelo menos um dispositivo semelhante já havia sido construído em outro lugar no Japão. Mas o que Daisuke inventou, como Alt disse, foi o pacote total de hardware e software personalizado que permitiu que o karaokê passasse de uma moda local a um enorme negócio global.
Como Daisuke não patenteou, o inventor filipino Roberto del Rosario desenvolveu um sistema de karaokê em 1975, quatro anos após Daisuke tê-lo inventado, e o patenteou nos anos 80. Roberto ficou milionário com seu sistema chamado "Minus-One".
Já nos anos 90, uma empresa sul-coreana que se dedicava a fabricação de placas de som pra computadores colocou um leitor de arquivo MIDI e uma placa sintetizadora de sons MIDI dentro de um aparelho e começou a vender os aparelhos e cartuchos com coletâneas de 20 músicas. Ganhou dinheiro a rodo.
Segundo o próprio Daisuke, se ele tivesse patenteado provavelmente o karaokê não teria crescido como cresceu. De fato é difícil ponderar se teria os mesmos efeitos profundos que causou na vida de fantasia de japoneses e ocidentais, que lotavam os bares de karaokê no fim de semana dos anos 90.
Com as inovações tecnológicas no decorrer dos anos o karaokê acabou se tornando uma grande indústria de entretenimento que envolvia pessoas de qualquer sexo, idade e nível social. O karaokê dava a oportunidade aos cantores de banheiro a se sentirem como cantores profissionais, ainda que acompanhados de um microfone e um playback, além se ser uma ótima forma de entretenimento e de tirar o estresse na companhia dos amigos.
No entanto, nada que é bom dura para sempre e a febre começou a ceder no final dos anos 90 quando as casas de karaokê passaram a ser frequentadas por gente que não sabia cantar e pessoas que não deviam beber, resultando quase sempre em confusões homéricas.
Inoue Daisuke acabou perdendo a grande chance de se tornar um dos homens mais endinheirados do Japão, ainda, que, como o bom Daisuke às vezes diz:
- "Quer maior riqueza do que ter ensinado o mundo a cantar?"
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