Nem homem nem mulher, transexuais de Bangladesh (24 fotos)

Os hijras ainda são envoltos em uma nuvem de enigma e mistério e são praticamente desconhecidos para nós ocidentais. São considerados assim como um terceiro sexo, uma castas de religiosos intocáveis na Índia, Bangladesh e Paquistão, que são homens (fisicamente), se vestem e agem como mulheres, descrevem a si próprios como um nome feminino, mas não se consideram como qualquer um dos dois. Eles são parte milenar da cultura do sul da Ásia e por causa das diferenças sexuais, são considerados párias sociais.

Entre os indianos da cidade de Varanasi, no norte da Índia, rituais de castração ou vestir homens como mulher é aceito e explicado culturalmente. Muitos homens eram castrados (ui!) pelas sacerdotisas para servirem de escravos, ou para se relacionarem com elas já que as mesmas devem permanecer virgens por toda vida.

Nesses rituais de castração as sacerdotisas usavam uma adaga (uiiii!) para remover o pênis e os testículos, o que provocava a morte de uma importante percentagem, e depois de castrados estes eunucos são vestidos como mulher e marcados para servir fielmente sua castradora.

Os hijras podem ser tanto considerados como indivíduos pertencentes a uma casta quanto a um culto. Possuem uma deusa própria, Bahuchara Mata e segundo a medicina ocidental são considerados transexuais masculinos.

O mais curioso é que a comunidade hijra está tão enraizada no islamismo -identificado no ocidente com terrorismo, fanatismo e opressão- indo-paquistanês, quanto no próprio hinduísmo -identificado com tolerância, paciência e não-violência-. Muitos deles, se não a maioria, são muçulmanos e sua conexão com as dinastias islâmicas que governaram a Índia é motivo de orgulho, inclusive para os hijras que professam o hinduísmo.

A falta de um censo oficial faz com que as estimativas sejam bem absurdas oscilando entre 50.000 e 5 milhões de hijras tão somente na Índia. Na religião indiana não existe uma definição clara de sexos: por isso vários de seus deuses apresentam traços de um e de outro sexo, o que permite a aceitação da existência de um "terceiro sexo".

A origem divina dos hijras origina de uma lenda de mais de 20 mil anos, segundo a qual Krishna ao ouvir um soldado moribundo que se lamentava de morrer solteiro, se transformou em donzela. Por esta razão os hijras vão todos os anos a Kutayan, ao sul da Índia, para celebrar seus casamentos com o deus e ao mesmo tempo sua identidade. Para esta ocasião, vestem-se com roupas de noiva.

Durante o século XVI os hijras ocupavam cargos de toda condição: desde babás até postos de alta categoria, como o de conselheiro de estado do imperador mongol. Nessa época os hijras chegavam a possuir terras, palácios, templos e serventes a sua disposição e inspiravam fé e respeito. Mas depois da ocupação britânica da Índia foram promulgadas leis homofóbicas que castigavam a homossexualidade e que acabaram marginalizando esta população, que foi obrigada a passar a viver da mendicância e prostituição.

Hoje, alguns se casam com seus primos e se castrai voluntariamente, apesar da legislação indiana proibir a castração desde 1860, mas a prática é bem comum em algumas clínicas.

Após a mutilação genital, o hijra cumpre com um último ritual: verter leite em um rio como símbolo da perda de sua fertilidade. Os indianos acham que os hijras, ao renunciar a ter filhos próprios, têm faculdades para abençoar ou amaldiçoar e é por isso que no nascimento de uma criança, os hijras são convidados a festejar com cantos, bênçãos e presságios de longa vida e prosperidade, bem como para o livrar do mau olhado. Em troca recebem arroz, açúcar e dinheiro. Se os hijras consideram que
recebem pouca esmola, a criança pode receber maldições, como por exemplo, a impotência.

A maioria dos hijras renunciam uma vida sexual ativa. Aqueles que se dedicam ao exercício da prostituição, não consideram esta atividade como uma atividade sexual, senão como um trabalho.

Fotos: Jan Møller Hansen.

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