Na divulgação dos últimos dois rankings de cidades mais violentas do mundo, San Pedro Sula, a segunda maior cidade de Honduras, reina absoluta. Um nervoso agente funerário local chegou mesmo a dizer em uma entrevista para o diário britânico The Guardian que o próprio Satanás em pessoa vive em San Pedro! |
- "As pessoas aqui matam por qualquer coisa, parecem que não são nada mais do que galinhas", exagera o homem que pediu para ser identificado apenas como Lucas.
Com uma taxa de homicídios de 169 por 100.000 pessoas em 2012, San Pedro Sula foi nomeada a cidade mais violenta do mundo, em um estudo realizado pelo Conselho Cidadão do México para a Segurança Pública e Justiça Criminal.
Ao longo dos últimos anos, os homicídios em Honduras só fazem aumentar, mesmo enquanto a violência cai em países vizinhos como El Salvador e Guatemala.
Armas e tráfico de drogas inundaram o país, contribuindo para a alta violência das gangues. Leis frouxas em relação as armas -civis podem possuir até cinco armas de fogo pessoais-, corrupção e pobreza tornam a vida em San Pedro Sula ainda pior.
Além do mais, os presos controlam 24 prisões de Honduras desde que o estado desistiu de reabilitar os condenados, de acordo com um relatório recente da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
Acreditem ou não, em 2008, o número crescente de assassinatos forçou San Pedro Sula a armazenar corpos em caminhões refrigerados antes de transportá-los aos locais de enterro coletivo.
Um golpe militar derrubou o ex-presidente Manuel Zelaya, em 2009, e o ambiente político tenso só causou mais problemas. Aqui, um dos seus apoiantes segura sua foto durante um protesto em San Pedro Sula, muitos dos quais se tornaram violentos.
Um incidente chocante em 2010 viu 18 pessoas massacradas em uma loja de sapatos, como parte de uma guerra de gangues. Esta foto mostra a polícia em busca de armas no dia seguinte.
Seis jornalistas hondurenhos foram mortos nos primeiros quatro meses de 2010, incluindo o apresentador de TV Jorge Orellana, que foi baleado na cabeça quando deixava a sua estação de notícias.
A polícia não pode manter os aeroportos seguros também. Seis pessoas foram mortas em um tiroteio entre assaltantes desconhecidos no Aeroporto Internacional Ramon Villeda de Morales em 2011.
Honduras está desempenhando um papel cada vez maior no comércio de drogas. Por exemplo, a policia de San Pedro Sula descobriu o primeiro laboratório de cocaína mexicano na América Central em 2011 (mostrado abaixo).
Mais da metade de todas as apreensões de cocaína na América Central ocorrem em El Salvador e Honduras, e os números de Honduras mais do que triplicaram entre 2010 e 2011. Abaixo, a polícia militar protege uma casa cheia de drogas em San Pedro Sula, em 2012.
As drogas abastecem grande parte da violência de gangues. Um das piores grupos "Mara Salvatrucha" também conhecida como MS-13, criada entre os reclusos centro-americanos na Califórnia nos anos 80. A atividade do grupo se espalhou de volta para Honduras e El-Salvador com as deportações.
Nem mesmo a prisão pode controlar a guerra. Pelo menos 14 detentos morreram em um tumulto em massa em 2012, quando gangues rivais atacaram uns aos outros com armas e facões.
A política de "tolerância zero" de Honduras permite à polícia prender jovens simplesmente por ter uma tatuagem. Abaixo, um tatuador a laser queima o símbolo no ombro de um ex-membro de gangue.
Como último recurso, a Igreja mediou uma trégua em maio de 2013 entre as gangues "Calle 18" e "Mara Salvatrucha". Abaixo, os membros mascarados falam com a imprensa, ao lado do bispo de San Pedro Sula.
Os cidadãos de San Pedro Sula, também tem que lidar com uma força policial corrupta. Pelo menos cinco casos recentes implicam policiais em assassinatos ao estilo esquadrão da morte de membros de gangues. Mesmo o chefe de polícia Juan Carlos "El Tigre" Bonilla enfrenta acusações de execuções extrajudiciais.
Em outra tentativa de acalmar as tensões, o governo hondurenho enviou cerca de 1.000 policiais militares para Tegucigalpa e San Pedro Sula, em 2013.
Eles até embarcam em ônibus públicos e tem postos de controle em toda a cidade para procurar armas e drogas.
A polícia confiscou as armas abaixo dos membros da "Mara 18" após uma apreensão de drogas em março de 2013. Em Honduras, as armas de fogo causam 83,4% dos homicídios.
Em San Pedro Sula não basta viver com medo, mas também da pobreza. Mais da metade da população do país vive abaixo da linha da pobreza e do desemprego paira perto de 30%. Este homem segura seu bebê fora de casa improvisada no "Rio Blanco" bairro de San Pedro Sula.
Quase 1,5 milhões de pessoas não têm acesso a água potável em Honduras, de acordo com um relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Muitas famílias lavam suas roupas e bebem das mesmas fontes.
As más condições de vida, sem dúvida, atingem as crianças. Em Honduras, dois terços das crianças vivem na pobreza, e 8% estão abaixo do peso. Os assistentes sociais encontraram Jason Lopez, 9, pesando apenas 8 kg -o peso normal de uma criança de 2 anos. Aqui, ele se recupera de desnutrição grave em um hospital de San Pedro Sula.
Cerca de 80% dos cidadãos não têm acesso aos cuidados de saúde, e muitas famílias ou pagam do próprio bolso para atendimento médico ou simplesmente ficam sem. Abaixo, voluntários tratam uma mulher doente na parte traseira de um caminhão.
Para piorar a situação, cerca de 33 mil hondurenhos, como Wendy Hernandez abaixo, vivem com a AIDS, de acordo com uma estimativa da UNICEF. Wendy foi infectada quando foi estuprada há 10 anos. Seu filho, resultado do estupro, também é HIV positivo.
Para escapar das pobres condições de vida e da violência, muitos hondurenhos fogem do país, mas os EUA faz o seu melhor para enviá-los de volta. Aqui, um grupo de deportados caminham em direção a um escritório de imigração depois de chegar a San Pedro Sula em um vôo dos EUA Em 2012, os EUA deportaram mais de 32.240 hondurenhos por via aérea.
Urnas aguardavam o resultado das eleições de novembro 2013 no país. Ambos os candidatos prometeram reprimir a violência relacionada às drogas que dá a Honduras a maior taxa de homicídios do mundo. Abaixo, o soldado protege urnas contendo as cédulas eleitorais em San Pedro Sula.
Mas muitos ficaram preocupados com o aumento da violência durante a eleição. Jornalistas e até mesmo os candidatos receberam ameaças de morte. O grafite abaixo diz: "Isso não pode acontecer com você, visite-nos."
No final, ambos os candidatos -Xiomara Castro, esposa do ex-presidente deposto Zelaya, e o candidato do Partido Nacional Juan Hernandez- reivindicavam a vitória. A autoridade eleitoral, no entanto, disse que uma contagem parcial de votos deu a Hernandez quase 35% de apoio e Xiomara pouco mais de 28%. Abaixo, Hernandez comemora sua vitória.
O que quer que o futuro reserve para Honduras, os cidadãos continuam a defender a paz. Aqui, devotos da igreja Luz Mundial realiza um ato protesto: - "Não à violência juvenil."
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Comentários
A violência está tomando conta d educação e o respeito ao próximo!!!
Será pior que Itaquaquecetuba (conhecida por aqui como Itaquaquistão)?
Exército não é uma entidade política, não pode e não deve ser. Não existe um único caso na história que tal aberração funcionou.
Infelizmente o caso dessa cidade está muito além da recuperação. Existe apenas uma saída, muito controversa, que é a eliminação de membros de facções. Improvável que aconteça, os defensores dos direitos humanos nunca permitiriam, pois acreditam que a vida de um indivíduo é mais valiosa que a vida da comunidade.
Inocentes perecerão, ficarei na expectativa de um milagre não violento. Espero que descansem em paz, com vida.
Me lembrou mesmo, algumas cidades do Brasil...
:-/
como resolver uma situação assim? pena de morte para lideres de gangues e estupradores, cortes de gastos públicos (cargos, despesas, ministérios, etc), investimento na construção de obras de infra estrutura, estradas, saneamento, etc. tentando assim aumentar o emprego. Investimento na educação fundamental, com período INTEGRAL para as crianças. Incentivar programas comunitários criados pelas próprias comunidades. Proibir a posse de armas. Programa de recompensa em dinheiro para delação de criminosos. Investir MAIS ainda em educação de base... combate a corrupção com lei que proíbe político corrupto a se eleger para QUALQUER cargo público, ou cargo por indicação. Enfim... precisaria de um regime meio ditatorial para conseguir arrumar isso. Com uma "politica" tradicional nunca chegariam a aprovar certas propostas necessárias, mas polêmicas... enquanto isso o povo q se fod*.
Para algo do tipo caminham algumas cidades brasileiras.
Golpe militar só agravou a situação. Muito bem. As cartas estão na mesa. Instituições corrompidas, polícia gerenciando as lutas internas do tráfico e os eventuais lucros e territórios, exclusão de uma boa parcela da população gerando rápida cooptação dos jovens, inoperância de forças externas, interessadas no colapso das democracias, etc. etc. Tudo isto só denota um pacto de fora para dentro do país, em função do golpe e da inércia externa. A intervenção dos interesses estrangeiros não se faz mais pelo apoio direto aos seus aliados internos. Uma democracia instaurada, por pior que seja, goza de legitimidade internacional. O problema é que as extremas direitas já não têm tanta representação ou, ao menos, recebem algum contraponto e resistência propiciada pelo ambiente democrático. é preciso desestabilizar ao máximo estas democracias, explorar seus pontos fracos, diminuir suas conquistas, incitar o descontentamento. As ONG´s surgidas no início dos anos 90, repletas de 'boas intenções' de apoio internacional são primordiais para o sucesso desta estratégia. Tenho absoluta certeza, mesmo que o post não tenha se referido a estas ONG's, que tem um punhado delas metidas no desencadeamento do colapso democrático em Honduras. Andei lendo alguma coisa (vou buscar referências e retorno ao post) de que as mesmas poucas ONG's infiltradas nos países emergentes "em defesa da democracia", estão metidas nas primaveras árabes, nos movimentos no leste europeu, na América Latina e nas jornadas de Junho de 2013 aqui nestas paradas. Outro braço forte deste processo é o crime organizado, crescente em todo o mundo e com sede financeira nos bancos americanos (há um post aqui mesmo no MDig, né Admin, sobre isto. Bom colocar o link de novo aqui neste post). Enfim, estamos todos com a barba de molho. Ou será que não há similaridades entre nossa conjuntura atual e a de Honduras? Embora, infelizmente (ou propositalmente) nossas elites políticas, tanto da direita quanto da esquerda, tentem passar a ideia de que está tudo sob controle. Sabemos que não! Informar-se é crucial pra fazermos nossa ínfima parte contra isto. A começar por não engrossar coro na rua sem pauta definida. Não se trata de sermos inertes com relação aos nossos problemas, mas não nos deixarmos ser mais manobrados do que somos. Sejamos de direita, esquerda ou estratosféricos, defender a democracia é crucial pra fazermos frente a isto. Não quero isto pra mim, nem pra ninguém, nem para o país.
Roooaaarrr...